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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Na floresta de símbolos das tradições (Carlos Eduardo Marcos Bonfá)





Marco Aqueiva é aquela espécie de poeta contemporâneo que atinge um tipo de individualidade desbravando a floresta de símbolos das dicções de tradições diversas. Este desbravamento criativo lhe possibilita conquistar aquele grau de escritura que a melhor tendência atual busca realizar: não le degré zéro de l'écriture (ao menos da forma como é propalado), mas o equilíbrio visceral entre razão e emoção, entre a especificidade "autônoma" da poesia e sua complexa abertura ao mundo, como acha necessário um filósofo e escritor contemporâneo de ponta como Michel Deguy. A partir desta ótica, Marco Aqueiva me parece se comportar como o poeta a que Antonio Cícero alude: "o poeta necessita pôr em seu jogo, até onde não possa mais ir, todos os recursos de que dispõe: todo seu intelecto, sua sensibilidade, sua intuição, sua razão, sua sensualidade, sua experiência, seu vocabulário, seu conhecimento, seu senso de humor etc. (CICERO, Poesia e Filosofia, 2012). 

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Pra onde foram os sensatos? (Assis Coelho)






É muito difícil de encontrá-los, mas ainda há aqueles que se lembram deles e até ainda os procurem. Este povo parece não ter se adaptado aos nossos costumes. Dizem que há alguns remanescentes vivendo entre nós; trata-se de lenda ou mais um dogma como outros que nos impuseram. Fala-se que este povo foi perseguido severamente por não fazer parte do rebanho que marcha indolentemente e submisso aos ditames da maioria. Há relatos de que este povo não acreditava no que lhes era pregado aos berros ou escrito em velhos livros sem uma investigação minuciosa até tornarem em teoria aceita provisoriamente. Há documentos confiáveis que indicam que este povo não cultuava nenhuma religião, pois as consideravam causadoras de litígios e separação e que também consideravam inaceitáveis o luxo e a pompa teatralesca dessas instituições, enquanto a maioria de seus seguidores morria de fome em casebres sem o mínimo para a sobrevivência. Os pesquisadores desse povo, certamente com poucos sobreviventes, tentaram, em vão, achar alguns deles em Tribunais ou Câmaras Legislativas. Insistentemente, continuam na busca frenética em algumas universidades, mas até agora a busca tem sido infrutífera. A vontade irrefreada de encontrá-los levou alguns pesquisadores a buscá-los até em lugares improváveis de encontrá-los, como nos quartéis. Seus buscadores não cessam a busca e têm acatado sugestões de algumas pessoas consideradas sábias e irrepreensíveis. Foram mais algumas decepções. Dizem alguns estudiosos que é impossível encontrá-los nas cidades abarrotadas de inutilidades massificadas tornando o cotidiano uma busca irrefreável do supérfluo. Muitos, como eu, já desistiram de buscá-los. Ainda há uns poucos que relutam em continuar nessa insana empreitada. Alguns acreditam na possibilidade de encontrá-los em algum lugar onde a vaidade e a soberba não seja cultuada. Isso tem dificultado, ao longo dos anos, o sucesso da busca. Outros têm direcionado a procura através dos campos, distantes do burburinho das cidades. Até agora não foram bem sucedidos.