Marco
Aqueiva é aquela espécie de poeta contemporâneo que atinge um tipo de
individualidade desbravando a floresta de símbolos das dicções de tradições
diversas. Este desbravamento criativo lhe possibilita conquistar aquele grau de
escritura que a melhor tendência atual busca realizar: não le degré zéro de
l'écriture (ao menos da forma como é propalado), mas o equilíbrio visceral entre
razão e emoção, entre a especificidade "autônoma" da poesia e sua
complexa abertura ao mundo, como acha necessário um filósofo e escritor
contemporâneo de ponta como Michel Deguy. A partir desta ótica, Marco Aqueiva
me parece se comportar como o poeta a que Antonio Cícero alude: "o poeta
necessita pôr em seu jogo, até onde não possa mais ir, todos os recursos de que
dispõe: todo seu intelecto, sua sensibilidade, sua intuição, sua razão, sua
sensualidade, sua experiência, seu vocabulário, seu conhecimento, seu senso de
humor etc. (CICERO, Poesia e Filosofia, 2012).
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sexta-feira, 12 de abril de 2013
quinta-feira, 11 de abril de 2013
Pra onde foram os sensatos? (Assis Coelho)
É muito difícil de encontrá-los, mas ainda há aqueles que se
lembram deles e até ainda os procurem. Este povo parece não ter se adaptado aos
nossos costumes. Dizem que há alguns remanescentes vivendo entre nós; trata-se
de lenda ou mais um dogma como outros que nos impuseram. Fala-se que este povo
foi perseguido severamente por não fazer parte do rebanho que marcha
indolentemente e submisso aos ditames da maioria. Há relatos de que este povo
não acreditava no que lhes era pregado aos berros ou escrito em velhos livros
sem uma investigação minuciosa até tornarem em teoria aceita provisoriamente.
Há documentos confiáveis que indicam que este povo não cultuava nenhuma
religião, pois as consideravam causadoras de litígios e separação e que também
consideravam inaceitáveis o luxo e a pompa teatralesca dessas instituições,
enquanto a maioria de seus seguidores morria de fome em casebres sem o mínimo
para a sobrevivência. Os pesquisadores desse povo, certamente com poucos
sobreviventes, tentaram, em vão, achar alguns deles em Tribunais ou Câmaras
Legislativas. Insistentemente, continuam na busca frenética em algumas
universidades, mas até agora a busca tem sido infrutífera. A vontade irrefreada
de encontrá-los levou alguns pesquisadores a buscá-los até em lugares
improváveis de encontrá-los, como nos quartéis. Seus buscadores não cessam a
busca e têm acatado sugestões de algumas pessoas consideradas sábias e
irrepreensíveis. Foram mais algumas decepções. Dizem alguns estudiosos que é
impossível encontrá-los nas cidades abarrotadas de inutilidades massificadas
tornando o cotidiano uma busca irrefreável do supérfluo. Muitos, como eu, já
desistiram de buscá-los. Ainda há uns poucos que relutam em continuar nessa
insana empreitada. Alguns acreditam na possibilidade de encontrá-los em algum
lugar onde a vaidade e a soberba não seja cultuada. Isso tem dificultado, ao
longo dos anos, o sucesso da busca. Outros têm direcionado a procura através
dos campos, distantes do burburinho das cidades. Até agora não foram bem
sucedidos.
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