O mal
de certa gente afeita a redigir, na hora de lapidar seus contos e poemas, é
torná-los quase enigmáticos. Não, não é certo usar esse “quase”. Na verdade, se
convertem em signos indecifráveis, semelhantes a fórmulas, ao mesmo tempo cabalísticas
e matemáticas. Conheço muitas dessas pessoas de aparência normal (nada de
cabeças desproporcionais, antenas verdes plantadas na testa, como aqueles
extraterrestres de Hollywood). São idênticas a nós: leem Machado de Assis,
Fernando Pessoa, Graciliano Ramos e também Kafka e Joyce (em português). Vão a
cinemas, teatros, ouvem música clássica, chorinho, Luís Gonzaga. Tomam chope,
conhecem mulheres ou homens, gostam de feijoada, baião de dois e pizza. São
quase (aqui cabe o advérbio) iguais aos outros seres humanos. Quando não chegam
a tanto, se parecem com escritores.
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quinta-feira, 18 de abril de 2013
quarta-feira, 17 de abril de 2013
Made in Lilliput (Luiz Martins da Silva)
Guardo, no meu quarto, mas já sem
pilha,
Jaz, lá, esse trambolho que um
dia tanto
Prometeu, vindo das nuvens, doce
maravilha,
Deslumbre, mas, logo, no prego,
desencanto.
Logro, fiar-me em alegrias deste
mundo
De inutilidades para ingênuos
viajantes.
Eterno amador, de boa fé, bem que
eu fui ao fundo,
Por um triz, fui feliz, mais que
um neto de Arcanjo.
Oh! Meu Senhor! Quanta gente há,
fingida.
Cretinos! Vendem alegrias para
toda uma vida.
Antigamente, pelo menos se dava
uma corda.
Hoje, brinquedos digitais,
caleidoscópicos,
Sonoras companhias, música,
animação,
Para logo dormirem, inertes, num
montão.
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