Translate

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Catedrais de barro (Nilto Maciel)




O mal de certa gente afeita a redigir, na hora de lapidar seus contos e poemas, é torná-los quase enigmáticos. Não, não é certo usar esse “quase”. Na verdade, se convertem em signos indecifráveis, semelhantes a fórmulas, ao mesmo tempo cabalísticas e matemáticas. Conheço muitas dessas pessoas de aparência normal (nada de cabeças desproporcionais, antenas verdes plantadas na testa, como aqueles extraterrestres de Hollywood). São idênticas a nós: leem Machado de Assis, Fernando Pessoa, Graciliano Ramos e também Kafka e Joyce (em português). Vão a cinemas, teatros, ouvem música clássica, chorinho, Luís Gonzaga. Tomam chope, conhecem mulheres ou homens, gostam de feijoada, baião de dois e pizza. São quase (aqui cabe o advérbio) iguais aos outros seres humanos. Quando não chegam a tanto, se parecem com escritores.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Made in Lilliput (Luiz Martins da Silva)


















Guardo, no meu quarto, mas já sem pilha,
Jaz, lá, esse trambolho que um dia tanto
Prometeu, vindo das nuvens, doce maravilha,
Deslumbre, mas, logo, no prego, desencanto.

Logro, fiar-me em alegrias deste mundo
De inutilidades para ingênuos viajantes.
Eterno amador, de boa fé, bem que eu fui ao fundo,
Por um triz, fui feliz, mais que um neto de Arcanjo.

Oh! Meu Senhor! Quanta gente há, fingida.
Cretinos! Vendem alegrias para toda uma vida.
Antigamente, pelo menos se dava uma corda.

Hoje, brinquedos digitais, caleidoscópicos,
Sonoras companhias, música, animação,
Para logo dormirem, inertes, num montão.

/////