Translate

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Pequenas reflexões (fragmentárias) (Emanuel Medeiros Vieira)

(Com citações diversas...)


Para Adélia e Dorinha – irmãs e amigas
Para Letícia Arangue, Manairá Athayde (e André) e Carlos Mota (e Inêz)

Informam-me que uma pessoa muito amiga, muito amada e muito querida está à morte. Devoto-me às palavras mal rompe a aurora há mais de 50 anos: eu sei, elas não mudam o mundo. O que dizer? Mas a palavra tem uma força imensa: nós nascemos para ela. Somos, como dizia Lacan, “falesseres”. Seres da fala e prometidos à morte, ao falecimento. Alguém disse que a escuta tem uma função pacificadora, e é cada vez mais necessária no mundo globalizado em que vivemos. Salman Rushdie acredita que é “função do poeta: nomear o inominável, apontar as fraudes, tomar partido, dar forma ao mundo e impedir que adormeça”. Só haverá lugar para fala e para a escuta, se houver afeto. Afeto, segundo Freud, está no campo do prazer e do desprazer. O citado Lacan, por sua vez, traz o silogismo “amódio”, que junta amor e ódio. O que fazer? Fazendo! A vida seria aquele touro que, segundo o poeta Garcia Lorca, temos de enfrentar, nem que seja com o traje emprestado do toureiro, como disse alguém. Escrevemos porque acreditamos que isso dá sentido à nossa vida. Continuaremos escrevendo porque é também um modo de domar tormentos. O leitor não tem rosto. Mas insistiremos: não para sermos célebres, por dividendos pecuniários, por vaidade. Isso não tem importância. É preciso sentir organicamente a palavra para não poder viver sem ela. E continuamos. Viver é breve, efêmero. E continuaremos com a palavra, mal rompe a aurora – até.

(Salvador, maio de 2013)
/////

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Contos de Nilto Maciel (Fernando Py)





Grande cultor de contos, o cearense Nilto Maciel envia a esta seção mais uma coletânea do gênero: Luz vermelha que se azula (Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2011). O livro se compõe de mais de sessenta textos, quase todos muito curtos, e são divididos em três partes. Cada uma dessas partes é caracterizada pelo autor, sendo que a primeira parte compreende “contos acolhidos”, ou seja, extraídos do inconsciente. A segunda parte seriam “contos de memória”, formados por lembranças da sua infância. E os da terceira parte, que Maciel designa de “contos da História”, são engendrados a partir de personagens históricos, quando o Autor procura “humanizar os homens célebres” e “inventar personagens que se aproximam dos mitos”.