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terça-feira, 9 de julho de 2013

O bêbado e o plagiador (Nilto Maciel)



 
(... e a decapitação de Ana Bolena)

Encontrei-me, por acaso, com Jonas Ramalho, músico sem sucesso. Não gosta de ser chamado de músico fracassado. Conhecemo-nos há alguns anos. Bebíamos além do permitido. Naquele tempo, “o bêbado com chapéu-côco,/ fazia irreverências mil/ pra noite do Brasil”. Eu me iniciava na literatura (arranhava uns versos, inventava umas frases). Ele me corrigia: este verbo não está bom aqui; este adjetivo deve ser varrido. Aparentava ser doutor em quase tudo. E o governo? Se conseguir debelar a inflação... Dava de goleada em mim, se falávamos de futebol. O time do Vasco valia uma seleção brasileira. E citava nomes antigos: Barbosa, Bellini, Orlando, Sabará, Ademir, Vavá. Entendia de mulheres: Está vendo aquela de saia verde?

segunda-feira, 8 de julho de 2013

História de amor (Paulo Lima)





            Eduardo deu um beijo em Sofia e saiu para o trabalho. Seguiu o caminho de sempre até o ponto de ônibus. Caminhou cinquenta metros em linha reta, dobrou à direita, depois à esquerda, e deu de cara com a avenida. Podia fazer o trajeto de olhos fechados, pois essa era sua rotina de segunda a sexta, uma rotina, diga-se, que ele aguentava estoicamente. Ele: marido-exemplar, pai-exemplar, empregado-exemplar.