(... e a decapitação de Ana Bolena)
Encontrei-me, por acaso, com Jonas
Ramalho, músico sem sucesso. Não gosta de ser chamado de músico fracassado. Conhecemo-nos
há alguns anos. Bebíamos além do permitido. Naquele tempo, “o bêbado com chapéu-côco,/ fazia irreverências mil/ pra noite do Brasil”. Eu me iniciava
na literatura (arranhava uns versos, inventava umas frases). Ele me corrigia:
este verbo não está bom aqui; este adjetivo deve ser varrido. Aparentava ser doutor
em quase tudo. E o governo? Se conseguir debelar a inflação... Dava de goleada
em mim, se falávamos de futebol. O time do Vasco valia uma seleção brasileira.
E citava nomes antigos: Barbosa, Bellini, Orlando, Sabará, Ademir, Vavá. Entendia
de mulheres: Está vendo aquela de saia verde?