Uma resposta, inquieta, que provavelmente nem chegará
até o nosso futuro
“Poeta, esporadicamente leio os
seus livros”, registra Ferreira Gullar – provavelmente hoje o poeta vivo cuja
reputação efetivamente transcende os limites da Poesia – as palavras de um
mendigo que a ele se dirigiu. Ao contrário da figura pública, que é Gullar, há
pouco tempo compartilhava-se a forte impressão de que poetas seriam apenas uma
invenção verbal, reduzidos exclusivamente à dimensão do livro. Mas até onde o
poeta pode reinar sem reino? Até a inanição absoluta? Outrora um poeta como
Victor Hugo podia insuflar com versos o espírito de sua época, o século XIX,
tão marcado por convulsões. Aqui entre nós, ao início do século XX, Olavo Bilac
pôde gabar-se de dar ao poeta o status
de profissão. Hoje há quem sustente que o poeta está inelutavelmente destinado
a perecer e nem mesmo merece ser salvo, pois tem extrema dificuldade de dar uma
finalidade à sua arte.