Em seu exemplar prefácio a “Sésamo e os lírios”, Marcel Proust declara que um livro nunca pode
nos contar aquilo que desejamos, mas tão-somente despertar em nós o desejo de
saber, pois não é possível recebermos a sabedoria de outrem; é preciso criá-la
por nós mesmos.
Proust sugere que o valor da leitura, na
infância, não reside no livro em si mesmo [que no seu caso era “O Capitão Fracasso”, de Théophile Gautier]
e, sim, nas lembranças inconscientemente conservadas nele, de tal forma valiosas
para nosso julgamento atual que, se por acaso, voltamos hoje às mesmas páginas,
não é só porque elas representam o único calendário que sobrevive dos dias
desaparecidos.