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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Choro (Frederico Rocha)













E eis o xote, e a valsa, e a polca num ;
Ao erudito do barroco quase dá-se um !
Toc’o Calado, a Chiquinha, o Azevedo e Jacob;
Chorand’o choro de contente sente !
Seja num bar à beira-mar à lua dum farolim,
Unidos ímpio, papa-hóstia, o judeu e o moslim,
Ressoa a flauta, o pandeiro, violões, bandolim;
Chorand’a roda a cirandar em torvelim.
Present’à roda tão airosos o malandro e o ma;
O mais galante exibe logo o lustre do mocassim,
E um chora o choro de chinela arrasta-!
Cadenciado, intrincado, meio “ com o cré”;
E swingado, descontent’e um tanto ledo é assim,
Chora o chorinho ao Pixinguinha e Nazareth!

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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Tô cansado! (Carlúcio Oliveira Bicudo)





                 
─ Alfredo, vá ao supermercado pra mim?
─ Ah, mãe! Estou tão cansado!
─ Ai... Ai... Cansado de que, Alfredo?
─ Mãe, a senhora pensa que não cansa ficar o dia todo batendo pernas?
─ Alfredo, você é demais, meu filho. Tão novo e já cansado. Pelo jeito, já nasceu cansado, não é?
─ A senhora diz isso porque não brinca com pipas e nem de pique de esconder. Queria ver a senhora disputando corridas com o Luís Pesão.
─ Deixe de bobagem, moleque! Tenho muito que fazer todos os dias. Lavo, passo, cozinho, arrumo a casa e, de quebra, ainda tenho que pôr você para tomar banho todos os dias.
─ Ué! A senhora não se cansa desta trabalheira toda?
─ Claro que sim, meu filho, mas tenho que fazer. Se não fizer, quem fará o meu trabalho?
─ Deixe para o papai fazer.
─ Seu pai? Coitado! Passa o dia todo pegando no pesado lá na fábrica. Quando chega em casa é mais do que justo que descanse para começar tudo de novo no outro dia.
─ Pois é, o meu pai, a senhora diz que vive cansado. E eu? Por que não posso me cansar? Afinal, todos os dias eu corro para esticar as pernas. Tento dominar o vento com as minhas pipas multicoloridas.
─ É, pelo jeito, você anda muito ocupado mesmo, não é filho?
─ E como! A senhora não sabe o trabalhão que dá  ficar contando carneirinhos ou descobrindo novos animais escondidos nas nuvens. E contar estrelas durante a noite, como é cansativo.
─ Já vi tudo. Eu mesma terei que ir ao supermercado. Esse menino, pelo jeito, anda com a mente ocupada demais.
 ─ Ainda bem que a senhora entendeu, mamãe!  Eu ainda tenho que descobrir um jeito de mudar as cores do arco-íris. A senhora não sabe o trabalhão que dá ficar pensando num jeito para que isso seja possível. Isso dá uma canseira!
─ Toma tento, menino, não tá vendo que isso é praticamente impossível?
 ─ Que nada! Já projetei novo modelo de casa para o João de Barro. Inventei um jeito de domesticar piolho.
─ O que você está falando, menino? Já estou ficando cansada de ouvir tantas asneiras. Você tá ficando é louco!
─ Louco não, mãe! Tô cansado!
                                                      
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