─ Alfredo, vá ao supermercado pra
mim?
─ Ah, mãe! Estou tão cansado!
─ Ai... Ai... Cansado de que,
Alfredo?
─ Mãe, a senhora pensa que não
cansa ficar o dia todo batendo pernas?
─ Alfredo, você é demais, meu
filho. Tão novo e já cansado. Pelo jeito, já nasceu cansado, não é?
─ A senhora diz isso porque
não brinca com pipas e nem de pique de esconder. Queria ver a senhora disputando
corridas com o Luís Pesão.
─ Deixe de bobagem, moleque!
Tenho muito que fazer todos os dias. Lavo, passo, cozinho, arrumo a casa e, de
quebra, ainda tenho que pôr você para tomar banho todos os dias.
─ Ué! A senhora não se cansa
desta trabalheira toda?
─ Claro que sim, meu filho, mas
tenho que fazer. Se não fizer, quem fará o meu trabalho?
─ Deixe para o
papai fazer.
─ Seu pai? Coitado! Passa o dia
todo pegando no pesado lá na fábrica. Quando chega em casa é mais do que justo
que descanse para começar tudo de novo no outro dia.
─ Pois é, o meu pai, a senhora
diz que vive cansado. E eu? Por que não posso me cansar? Afinal, todos os dias
eu corro para esticar as pernas. Tento dominar o vento com as minhas pipas
multicoloridas.
─ É, pelo jeito, você anda muito
ocupado mesmo, não é filho?
─ E como! A senhora não sabe
o trabalhão que dá ficar contando carneirinhos ou descobrindo novos
animais escondidos nas nuvens. E contar estrelas durante a noite, como é
cansativo.
─ Já vi tudo. Eu mesma terei que
ir ao supermercado. Esse menino, pelo jeito, anda com a mente ocupada demais.
─ Ainda bem que a senhora
entendeu, mamãe! Eu ainda tenho que descobrir um jeito de mudar as cores
do arco-íris. A senhora não sabe o trabalhão que dá ficar pensando num jeito
para que isso seja possível. Isso dá uma canseira!
─ Toma tento, menino, não tá
vendo que isso é praticamente impossível?
─ Que nada! Já projetei novo modelo de casa
para o João de Barro. Inventei um jeito de domesticar piolho.
─ O que você está falando,
menino? Já estou ficando cansada de ouvir tantas asneiras. Você tá ficando é
louco!
─ Louco não, mãe! Tô cansado!
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