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sábado, 22 de fevereiro de 2014

Assovio no escuro (Luiz Martins da Silva)














De verdade, de verdade, não existe.
Ele é só o lado avesso do sentido.
Mas, como hei de convencer a criança
De que ele não passa de uma sombra do arcaico?

Hoje, por desígnios de milênios,
Há um silêncio que expande a própria noite,
Feito elástico que só decorou plano de ida,
Momentos de vidas, eu sei, eles jamais voltam.

Imagino reter o mundo no ponteiro dos segundos,
Mas o rio é insistente no seu curso.
Águas se renovam, não os nossos rostos.

Nada há de garantia no cândido acalanto
De que o tempo é uma ilusão dos sentidos
Que só age nestes confins da nebulosa.

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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Choro (Frederico Rocha)













E eis o xote, e a valsa, e a polca num ;
Ao erudito do barroco quase dá-se um !
Toc’o Calado, a Chiquinha, o Azevedo e Jacob;
Chorand’o choro de contente sente !
Seja num bar à beira-mar à lua dum farolim,
Unidos ímpio, papa-hóstia, o judeu e o moslim,
Ressoa a flauta, o pandeiro, violões, bandolim;
Chorand’a roda a cirandar em torvelim.
Present’à roda tão airosos o malandro e o ma;
O mais galante exibe logo o lustre do mocassim,
E um chora o choro de chinela arrasta-!
Cadenciado, intrincado, meio “ com o cré”;
E swingado, descontent’e um tanto ledo é assim,
Chora o chorinho ao Pixinguinha e Nazareth!

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