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quinta-feira, 3 de abril de 2014

O golpe visto da janela de minha casa (Adelto Gonçalves*)




            Em 1964, eu tinha 12 anos de idade e assisti ao golpe militar da janela de minha casa. A morada de meus pais era no Largo Teresa Cristina, 27, defronte para o prédio do Sindicato dos Operários Portuários de Santos, localizado à Rua General Câmara, cuja lateral direita dava para a praça. Foi por ali que chegaram os soldados da Polícia Marítima, do comandante Seco, ostensivamente armados. Da janela, vi como alguns daqueles homens de uniforme azul com metralhadoras em punho e longos bastões – que no cais eram mais conhecidos como “pés de mesa” – escalaram o muro dos fundos do sindicato, assumindo posições estratégicas.


quarta-feira, 2 de abril de 2014

Janela discreta (Tânia Du Bois)



 “Atrás das vidraças / sujas da poeira / da rua // protegidos / e isolados /  da poeira / da vida // escondidos / e transfigurados / na poeira / do tempo //   guardados / e revelados / na poeira” (Pedro Du Bois)
         
          Na janela discreta está a marca do tempo, na paisagem e no vento. O Sol brilha e a Lua se esconde entre nuvens. A poeira se desloca para todos os lados e com movimentos circulares se espalha. Mas o que importa é o que o vento traz ou o que revela do tempo onde se repete em palavras. A palavra é força da natureza que, uma vez articulada, vira ação. Segundo Mia Couto, “Varrer as avessas: em vez de limpar os caminhos, espalhávamos sobre eles poeiras...”