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quarta-feira, 9 de abril de 2014

Descida (Francisco Miguel de Moura)




Quantos anos que gente sobe a vida
pensando que subiu, cresceu, mudou,
a enganar-se na festa e na bebida,
pra ignorar o mundo – este robô!

Vive-se o tempo.  E as horas consumidas
em vãos gozos e gulas, sem fronteiras,
desconhecem as dores pressentidas,
e o fumo das batalhas derradeiras.

Ninguém espreita a onda dos mistérios,
da velhice, da doença e o conteúdo
de mascarados e sutis impérios.

A lei da morte apaga amor, carinhos,
porque o tempo de Deus ficou desnudo
na cruel desesperança dos caminhos. 

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terça-feira, 8 de abril de 2014

O estranho telefonema (Carlúcio Bicudo)




Tudo transcorria na mais perfeita paz. Na sala, Veridiana lia o livro Mistério de Marie Roget, do grande escritor Edgar Allan Poe.
O enigmático livro tem por base um fato verídico ocorrido em 1841, nos arredores de Nova York, com o aparecimento do corpo da jovem Marie Roget.
Poe acabou ficcionando e ambientando a trama da história na cidade de Paris.
Veridiana, muito empolgada, degustava cada palavra, linha ou parágrafo, como se fosse a última coisa a ser feita na vida. Lá fora, o tempo estava fechado. Uma ventania soprava um ar aquecido e com ele o cheiro de terra.
Já era tarde, final de sábado. Ela estava sozinha. Seu filho havia saído com amigos para uma festa.