Translate

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Desabitar (Pedro Du Bois)

















Sinta, senhora, na noite quente,
em abafado quarto, a brisa refrescante
pela janela aberta ao poente; esqueça,
senhora, da tarefa: sirva-se de chá
e aguarde o tempo necessário
ao aroma se afastar em reingresso.

Veja, senhora, com suas órbitas
desfocadas, o que resta da imagem
sobre a cama. Na quietude do dia
alvorecido, diga do consolo
dos que partem. Saiba, senhora,
em mãos despetaladas, do abandono
do corpo agora desabitado. 

/////

domingo, 20 de outubro de 2013

O verniz dos mestres (Franklin Jorge)





Escrevendo à Condessa de Noailles, em 1904, confessa Proust que, se procuramos o que faz a beleza absoluta de certas coisas, por exemplo, a das “Fábulas” de La Fontaine e das comédias de Molière, vemos que não é a profundidade ou esta ou aquela outra virtude que parece eminente, mas a diversidade de recursos que levam à unidade e à superação dos obstáculos que fatalmente se interpõem entre o artista e a criação de uma obra.