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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Poemas de Carlos Nóbrega (I)


(De um livro inédito ainda sem título)



ESCOLHEI

Que aflitivo é o silêncio

de um tambor

numa sala cheia de pessoas tristes.


Ó vós que amai vossos ouvidos,

preferi as bocas

que têm seus dois cantos

virados para cima.


* * *
A VENCEDORA DAS GENTES

A dor é uma faca comprida

uma viga uma briga uma grade;

É fera que late e grita

e fere em furor, e bate;

É nossa maior inimiga,

uma farpa a rascar a ferida,

ardor sobre o ardor do que arde:

A dor

é o desempate

do jogo da morte com a vida.

* * *
NASCIMENTO

Minha mãe me deu ao sol,

ao ardor deste deserto

E vim com tinta em meu olho

e vim com sombra em minha alma

E vim com febre em minha pele

e com chamas no meu lábio,

Com mais sede de palavras

do que mesmo de seu leite.

* * *
DISCURSO AO PÉ DO ALTAR

# muita paisagem

fez o meu olhar se engasgar,

muitos rostos,

filmes e amores que se perderam


# sei sim que sou inteiro,

inteiro desde os cabelos que perdi

aos cacos das unhas que aparei

e se perderam


# da dor ao êxtase,

e o sal desta maçã

Da infância a esta pedra,

as chamas e aquela estrela:

Todas as coisas esperam

por seu adeus,

todas as coisas,

ó bem amada.
/////