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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Brasília revisitada (Emanuel Medeiros Vieira)

(Para Clarice e Lucas, meus filhos, que aqui nasceram)


Não, não quero falar da cidade estigmatizada, dos poderes – podres ou não..

Não a urbe oficial, dos altos tecnocratas, dos políticos que só conhecem o aeroporto, carros oficiais, palácios, ministérios, o Congresso, restaurantes chiques, e boates de “moças de luxo” – caras, da mais antiga profissão.

A cidade que amo é outra.

Das chuvas de janeiro (que agora pararam) de tantas mangas, dos verdes belos, das goiabas crescendo, da Clarice, do Lucas, dos piqueniques improvisados, do Parque da Cidade, e de tanta gente honrada que aqui labuta e corre atrás dos seus sonhos.

Mudar essa imagem eu sei que não vou.

Mas creio que o meu papel é o de “evangelizador laico”.

Se mudar uma só visão, um só olhar estereotipado, ficaria compensado.

Eis-me de volta, provisoriamente, da primeira para a última capital.

Não, os poderes já não me interessam.

Cada momento é um lugar onde nunca estivemos.

E tento redescobrir cada momento.

O que é o tempo? me pergunto sempre – desde que iniciei no ofício de tecer palavras.

Virgílio captou magistralmente: “Sede fugit interea, fugit irreparabile tempus” (mas ele foge: irreparavelmente o tempo).

E Clarice Lispector pergunta: “Oh Deus que faço desta/felicidade ao meu redor/que é eterna, eterna, eterna/e que passará daqui a um instante/porque só nos ensina/a ser mortal?”

Mas o que queria dizer?

Que há uma cidade escondida, além do olhar apressado.

Há uma cidade mais funda – das linhas retas.

Algo que ficará, além das celebridades vãs, da vida de gente que se atribui muita importância – ministros e deputados que logo serão esquecidos.

Quem se lembra de Médici? Quem se esquecerá do Dr. Oscar e de Lúcio Costa?

É por essa razão que dedico o curto texto ao Lucas e a Clarice.

Não são “candangos”, pioneiros.

Ele vai fazer 9 anos, ela 26.

Mas há algo de novo nos seus olhares.

E enquanto escuto um pássaro cantando, o sol batendo na mesa em que escrevo, não consigo evitar o lugar-comum: vale a vida. Algo do nosso trabalho ficará – ficará. E sei que toda a glória é finita, que é sempre assim (apenas passamos). E o tempo foge.

(Brasília, janeiro de 2012)

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