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terça-feira, 12 de junho de 2012

Pequena nota sobre Amor da Minha Vida (João Carlos Taveira*)


Ao concluir a leitura deste livro epistolar, meu pensamento voou em direção à vida de alguns amantes célebres que também manifestaram o seu amor por meio de cartas. Uns foram bem-sucedidos; outros, nem tanto.

No século XII, Heloísa e Abelardo trocaram correspondência durante anos, após se conhecerem em sala de aula, como aluna e professor. Quando tiveram a oportunidade de ficar juntos, depois de terem um filho, um tio da moça se colocou contrário à união, maquinando ardilosamente mil maneiras de separá-los. Mas não os separou, mesmo tendo destruído a virilidade de Abelardo — castrado duas vezes no seu orgulho. O importante, no entanto, é que a magnitude daquele amor os tornou conhecidos e admirados para sempre.

Quem não conhece a história de Choderlos de Laclos, um general do exército de Napoleão que ficou famoso na literatura mundial com o romance As relações perigosas, uma obra-prima do romantismo francês? Esse livro é totalmente narrado por intermédio de cartas entre amantes e pessoas de círculos antagônicos e diversos. O autor, não obstante, sempre se negou a autoria da vasta correspondência, dizendo-se apenas um compilador dos textos que lhe foram entregues pelos envolvidos para seleção e publicação. Uma ficção dentro da ficção. E genial.

Por volta de 1820, Beethoven escreve à amada imortal uma carta que, misteriosamente, nunca chegaria às mãos da destinatária. Em nenhum momento, entretanto, aquela mulher teve seu nome revelado, segredo que o autor de Fidelio levou para o túmulo. Essa carta foi encontrada junto ao testamento do compositor, em 1827, logo após a sua morte. E, desde então, tem gerado muitas especulações. Afinal, quem teria sido o grande amor na vida de Ludwig?

Franz Kafka, já no século XX, em períodos difíceis de sua vida, também escreve cartas de amor. E suas correspondentes, Felice Bauer e Milena Jesenská, são as mulheres que ele amou apaixonada e demasiadamente; e cada uma delas, ao seu modo e ao seu tempo, soube retribuir os apelos da grande paixão do escritor tcheco. O resto dessa história, aliás, muita gente conhece.

Linda Mendes, depois da troca de cartas com seu adorado S., tomou coragem e agora resolveu publicá-las. O livro, de 200 páginas, com capa magnífica de Thiago Sarandy (Thesaurus Editora, 2012), colige a correspondência entre eles durante dois anos; interrompida apenas quando decidem morar juntos. No ano seguinte, S., após um acidente neurocardiovascular, passa a viver em estado vegetativo. Tem início aí o que para muitos seria um castigo, uma derrota, mas não para essa mulher guerreira que, com amor verdadeiro, continua se dedicando, fielmente, ao homem de sua vida, a sua “alma gêmea”, importando-lhe apenas o fato de estarem juntos.

Amor da minha vida não é ficção, e sim o relato epistolar de uma história vivida em toda a sua plenitude, com tudo o que a vida pôde oferecer de belo e verdadeiro aos seus protagonistas.

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* João Carlos Taveira, mineiro de Caratinga, vive em Brasília desde 1969. Tem vários livros publicados e participação em Antologias, Dicionários, Enciclopédias e Livros Didáticos, como o recente de Alan Viggiano: A fortuna poética de João Carlos Taveira (Editora André Quicé, 2012).

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