(Airton Monte em entrevista a Ricardo Guilherme, TVC, Fortaleza)
Tempos
há em que nos quedamos, a querer saber razões. Passamos em revista a família
nuclear, os pais, os irmãos, os amigos, os colegas e os companheiros de
trabalho. E a quais conclusões chegamos? Por que essa luta absurda que travamos
se sempre aflora a quase incomunicabilidade entre os que se querem e lutam
pelos mesmos princípios? Sei não. Logo, a Catrina ou o Ceifador atinge a
amigos.
Em
menos de um mês perdi dois amigos. O primeiro, Ananias Josino Lobo. Fora colega
de faculdade, então sonhos comuns e assim permanecemos em contato, em seguidos
e distintos trabalhos que fazíamos com responsabilidade e esperança.
Conversávamos ao vivo e nos comunicávamos pelo computador, este bene/malefício
que juntafasta pessoas. Era quase o meu oposto: tranquilo, organizado,
metódico, lado a lado com Creuza, sua escudeira por 49 anos, com quem viajava
mundo afora de forma silente. Mesmo assim, nos entrelaçamos como fraternos e
nos acolhemos juntos por meio século. Ainda dói.
O segundo,
Airton Monte, era um introvertido disfarçado que se aproveitou do parentesco
para casar com a prima Sônia. Juntos trouxeram ao mundo os guapos Bárbara e
Pablo. Conhecia meio mundo, ria cofiando os bigodes, mas seu olhar desconfiado
e míope só parava em alguns escolhidos. Curioso, inteligente, lido e capaz,
fez-se médico e preparou-se, com paciência de frade, para ouvir os
desafortunados mentais, os que confundem ou sugerem embaraçar o imaginado e o
real. Trabalhava em hospitais/sanatórios públicos enquanto pitava o cigarro,
revirava os olhos e pensava na cerveja nos bares do entorno do seu morar.
Agora, neste instante, estou triste por eles na incerteza da fé, pelos
questionamentos sem resposta e pela boba incomunicabilidade que se disfarça nas
relações sociais
Não
concordo com T. S. Elliot, a vida é mais que nascimento, cópula e morte. Vida é
estrada a fazer.