Esconder-se? Esconder o que os olhos não veem? O que o coração sente na
saudade, como a lembrança em busca da incerteza da vida? Que vidas podemos
esconder, se cada vez mais ela está à mostra para quem quiser ver, sentir,
optar e até mesmo para amar ou sofrer?
Nilto Maciel em seu poema Esconderijos retrata a realidade triste que só
fica escondida quando nos fechamos para ela: “No corredor o que fazia a
infanta? / Por que não ia, não fugia logo / ou não gritava ou não chorava
muito?... // Não sou parede ou árvore de Deus, / não tenho ouvidos e não vejo
nada, / nem sei me conduzir por onde passo, / e nada posso desejar por elas, /
as tais meninas nos esconderijos”.
Parece senso comum as pessoas se esconderem das situações desagradáveis. O que
causa a sensação de que só podemos nos esconder quando não temos condições para
resolver o que vemos e, assim, os esconderijos passam a fazer parte da vida.
Também penso que é imprevisível o resultado, já que não se consegue mensurar
com exatidão as impressões ou as emoções que de fato elas provocam, como ainda
em Nilto Maciel: “... Não sei o que a menina lá fazia / naquela noite
escura, aquela treva. / Eu tive medo dela, sim, confesso, / da solidão que a trouxe
e abandonou, / do seu silêncio de quietude feito. // Então fugi pra muito longe
dela, / aos gritos, louco, a lhe pedir socorro”.
Quantas vozes temos quando nos escondemos? Esse é o poder nem sempre possível
de classificar, mas que aguça a sensibilidade sobre a situação, quando
colocamos a máscara para não percebermos as pequenas tragédias diárias. Pedro
Du Bois, em seu conto Escondidos e Não se Mostram, revela, “...
Éramos e somos os escondidos, os que não se mostram e que não se enxergam e esse
relato é apenas para que todos lembrem como é lá fora e fiquemos na proteção
que há dentro de cada um de nós”.
Em cada janela fechada procuramos vultos e não mais o encontramos, porque temos
a casa, a cidade e a vida como esconderijos, onde cada descoberta está
encoberta pelo desejo do que cada um tem vontade de ver.
Os escondidos se colocam atrás de biombos porque ocultam o outro lado: aquele
que traz o desvelo do dia a dia e a luz do mistério. Eles tem o dom da
incerteza onde a escuridão dos esconderijos traz a tristeza, como mostra Nilto
Maciel, “... Tantas pequenas pelos becos sujos, / pelos caminhos tortos, sem
sossego / e sem brinquedo, que pareço mais / resto de gente a se perder na
luz...”
Tantos são os escondidos e os esconderijos que a triste realidade e o medo
inventam um mundo suposto, atendendo apenas cada desejo e ocultando a versão
dos fatos e as cenas do cotidiano. Nas palavras de Pedro Amaral, “... É uma
tristeza sem adornos, / sem enfeite de lágrima...// É tristeza (assim seja) /
De alguém que viu //... E não deteve o espanto”.
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