Publiquei
neste domingo na coluna que assino no Novo Jornal e o reproduzi em minha página
na web, pequeno e despretensioso comentário contendo minhas impressões de
leitura de Nilto Maciel, um prolífico escritor de Baturité que se recolheu à
Fortaleza, de onde irradia-se em sortilégios literários de que é prova cabal
esse livro que não pode faltar na biblioteca dos pesquisadores e dos amantes da
literatura.
Em Gregotins de Desaprendiz [Editora
Bestiário, Porto Alegre, 2013], uma compilação que creio bastante resumida da
colaboração do autor em diversos veículos que acolhiam a literatura
contemporânea. Nesse livro que constitui um grato reencontro com autores e
companheiros de geração, escritores que estrearam naqueles anos 70 do século
passado, por todo o país. À página 140 e na segunda orelha, transcreve Nilto
palavras de admiração que tenho escrito sobre sua atividade intelectual ímpar e
benfazeja.
Nilto
leu centenas de livros, milhares talvez; leu e opinou sobre os mesmos, e agora,
em edições bem cuidadas, os divulga, cônscio de que a arte começa com o
exercício da generosidade. Nesse livro, reitero, o leitor arguto e sensível,
perspicaz e infatigável, desperta-nos a curiosidade por esses autores
circunscritos, majoritariamente, em suas províncias natais, autores sem
editoras, sem distribuição, sem mídia e sem leitores, que predominam nos
escritos desse escritor cearense que há mais de 40 anos difunde a literatura
brasileira contemporânea.
Devotou-se
o autor de Gregotins a devorar e
divulgar os impressos recebidos como doação, presente, mimo, como o confessa na
apresentação à pág. 7: “Poucos dos escritores por mim lidos naquele período
tiveram sobras divulgadas por editoras de grande porte”. Desde aquele ano de 1976,
quando pôs em circulação e editou O
Saco que colocou a literatura marginal no circuito das discussões,
Nilto não parou mais e com isso tem prestado inestimável serviço às letras.
Assim,
graças aos seus registros sobre autores, deparei-me à pág. 14 com uma curta e
perspicaz resenha sobre a escritora Socorro Trindad, enfocada a partir da
leitura do livro Cada Cabeça uma Sentença
e descobre, na autora nascida em nossa pacata e ilustre Nísia Floresta, a
antiga Papary (RN), duas virtudes essenciais: a capacidade de misturar o trigo
e o joio e esplêndida cultura literária. E fico imaginando o que diria o autor
– se é que não o disse em um outro texto – sobre o livro de estreia de Trindad,
Os Olhos do Lixo, que eu possuía com
o autógrafo da autora.
Nessa
colaboração advinda de publicações diversas, algumas já extintas, o registro de
uma atividade intelectual que se destaca e encoraja-nos a pesquisar e conhecer
esse movimento que deu vida à produção literária da época. Resenhas e ensaios
dispersos em publicações como o Suplemento
Minas Gerais; O Povo e O Unitário [Fortaleza]; Suplemento da Tribuna da Imprensa [Rio
de Janeiro]; Correio Braziliense e Jornal de Brasília; Suplemento Cultural O popular, Folha de Goiaz e Opção [Goiânia]; Jornal da Semana e Diário do
Comércio [Recife], estão reunidas aqui, por Nilto Maciel, que enumera 42
autores dentre os inumeráveis que perfilou em centenas de resenhas que suponho
ainda inéditas em livros. São eles, assim nominados em Gregotins: Francisco Carvalho: um poeta maior; O universo fabuloso
de Juarez Barroso; Socorro Trindad: misturando o joio e o trigo; Joanyr de
Oliveira: um poeta quase bíblico; Miguel Jorge: veias e vinhos; Nagib Jorge
Neto: cordeiros e lobos; José Alcides Pinto: ordem e desordem; Caio Porfírio
Carneiro: a incandescência do sal; Adrino Aragão: o suor da escrita; O pássaro
de luz de Guido Heleno; Carlos Emílio Corrêa Lima: epopeia e mito; Emanuel
Medeiros Vieira: desespero e morte; O engenho poético de Batista Lima;
Aguinaldo Silva: reflexos grotescos; Enéas Athanázio: histórias catarinenses;
Salomão Sousa: a lógica do pessimismo; Glauco Rodrigues Corrêa: literatura
policial com L maiúsculo; Silveira de Souza: nós e o fogo; Dimas Macedo: poemas
das lavras de um poeta; José Lemos Monteiro: crônica de uma era monstruosa; Avarmas de Miguel Jorge; Luís Martins da
Silva: a fertilidade da poesia; O filão de Luciano Barreira; Valdomiro Santana:
concisão e profusão no dia do juízo; Diogo Fontenelle: um topógrafo da poesia;
Naomar de Almeida: o homem como natureza; O laboratorista Paulo Nunes Batista;
Ubirajara Galli: êxtase fabular; O. G. Rego de Carvalho: entranhas da alma;
Wilson Pereira: narrativas poéticas; Floriano Martins: poesia da paisagem; W.
J. Solha: a lucidez possível; José Peixoto Júnior: sobre o Cariri; A poesia de
Sérgio Campos; Jesse Navarro Jr: o poder da síntese ou a síntese do poder;
Antonio Possidônio Sampaio: documentário do ABC.
O
livro conclui com a publicação de alguns pequenos e consistentes ensaios sobre
temas correlatos, a saber: 64 D.C. (antologia); Elefante enjeitado; Outros
poetas do Ceará; Mais nove romancistas; Outros poetas de Goiás; Outros
contistas; Duas antologias de poemas; Duas antologias de contos; e, mais,
informações precisas sobre o autor [dados biográficos, livros publicados, fragmentos
da volumosa Fortuna Crítica que bem a merece o escritor Nilto Maciel.
(O
santo ofício, www.osantoofício.com,
21/4/2013)
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