Para o Pato
A boca, uma
flor violeta
Aberta em meio
ao rosto,
Os olhos
perdidos no azul
Como se
fitassem no céu
Alguma ave à
espreita.
Sobre o peito,
repletas de rubis,
Transbordavam
como cascata
Pelas frestas
dos seus dedos
E as suas
sardas como rochedos
Lutavam para
deter o avanço do frio.
O sol se
retirara mais cedo
De sua face e
seu fulgor desaparecia
Dos gestos
acolhedores e seu riso
Extinguia-se
como se a chuva
Muda escorresse
das canaletas
E sobre todos
os seus membros
Pousasse uma
esteira de silêncio
E o verso
morresse amordaçado.
Tinha o céu
transportado para a poça
Ao lado de sua
cabeça pendida
Percebia alguma
poesia na luz
Que se
transferia do horizonte
Para os seus
ouvidos como melodia.
E a ave,
curiosa, pousada ao seu lado
Com a face à
sua superposta
Parecia-lhe
captar a alma
E ao céu
conduzi-la:
É apenas um
artifício de poesia?
O pássaro voou
sem deixar resposta.
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