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sábado, 6 de julho de 2013

A flor (Mariel Reis)


Para o Pato

 




A boca, uma flor violeta
Aberta em meio ao rosto,
Os olhos perdidos no azul
Como se fitassem no céu
Alguma ave à espreita.

As mãos unidas em concha
Sobre o peito, repletas de rubis,
Transbordavam como cascata
Pelas frestas dos seus dedos
E as suas sardas como rochedos
Lutavam para deter o avanço do frio.

O sol se retirara mais cedo
De sua face e seu fulgor desaparecia
Dos gestos acolhedores e seu riso
Extinguia-se como se a chuva
Muda escorresse das canaletas
E sobre todos os seus membros
Pousasse uma esteira de silêncio
E o verso morresse amordaçado.

Tinha o céu transportado para a poça
Ao lado de sua cabeça pendida
Percebia alguma poesia na luz
Que se transferia do horizonte
Para os seus ouvidos como melodia.
E a ave, curiosa, pousada ao seu lado
Com a face à sua superposta
Parecia-lhe captar a alma
E ao céu conduzi-la:

É apenas um artifício de poesia?

O pássaro voou sem deixar resposta. 

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