Tive
que ficar de ponta de pé. Como era alta aquela vidraça! Mas o cheiro me atraía.
Comida boa, logo percebi. Mesa grande, larga e farta. Ao lado, a pilha de
presentes. Ao fundo, a árvore de Natal; piscando, piscando. Piscando pra
mim?!...
Bandejas
correndo a sala. Um tapete vermelho sob os pés de todos. Homens, mulheres e
crianças. Pessoas bem vestidas. Achei engraçado que não ouvisse nenhuma voz;
apenas os lábios em movimento, o vidro não deixava passar a conversa para fora
da casa.
E
como é que aquele cheiro me chegava? Não sei, só sei que me entrava pelo nariz,
apertando-me o estômago, ao tempo em que me enchia a boca de saliva. Muita
saliva.
De
repente, surge Papai Noel. Grande, vermelho e de barba branca. Igualzinho ao da
tevê. Dava para perceber as risadas nos rostos, e a meninada aos pulos de
contentamento. Do saco, saltaram presentes: carrinho com controle remoto,
boneca grande, videogame... Meu
Deus!, aquilo tudo que vi passando nas propagandas da televisão do bar do seu
Geraldo!
Arregalei
os olhos, e aproximei-me ainda mais da janela, pois tive a impressão de que o
homem dos presentes virou-se para mim e sorriu. Pela vidraça. Um sorriso a
piscar?!... Não sei, nunca saberei.
O
que senti a seguir foi uma voz forte, seguida de um tapa nas minhas costas:
—
Vai piscando, garoto! Pisca, pisca!
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