Essa
espécie de literatura, criticada por Schoppenhauer, despreza a concisão que
consiste em dizer apenas o que é digno de ser dito com a justa distinção e no
estilo mais apropriado, de modo claro e direto. Quis dizer-nos, assim, que a
verdade fica mais bonita quanto mais nua e a impressão que ela causa é mais
profunda quanto mais simples for sua expressão. Usar muitas palavras, para
comunicar escassos pensamentos, parecerá sempre a Schoppenhauer, o sinal
inconfundível da mediocridade.
Escritor
para escritores, é notável sua influência sobre outros grandes escritores,
entre os quais, Nietzsche, Thomas Mann, Borges… Proust terá se inspirado nele
ao escrever sobre um determinado autor, reproduzindo-lhe o estilo e a maneira
de escrever, como o faz admiravelmente ao referir-se à obra do duque de
Saint-Simon e de outros clássicos franceses que admirava. Engenhoso artifício
metalinguístico que oferece ao leitor a oportunidade de ler Saint-Simon, por
exemplo, ao ler o que Proust escreve a seu respeito…
Como
um desses raros escritores que escrevem em plena consciência, o filósofo do
mundo como vontade e representação descarta o superficial e o insípido, pois
sabe que honra e proveito não cabem no bolso. Por isso, ao refletir sobre
certos pressupostos kantianos, dedica-se ao deleite de pensar sem
condescendência. Aliás, o prazer e a felicidade de sua existência consistiam
exatamente em pensar.
Ao
deter-se sobre a grande quantidade de escritores ruins que vive exclusivamente
da abstenção de leitores que não pensam e do público que não quer nada além do
que foi produzido no estilo displicente dos escritores assalariados e não como
o arquiteto constrói, levando em consideração os detalhes, sem frivolidade nem
desleixo.
Diz-nos
Schoppenhauer que um escritor autêntico é alguém rico em pensamentos. Como ele
próprio, Schoppenhauer, que, escrevendo, combinou critério e intenção, ao falar
diretamente ao leitor, sem subterfúgios retóricos ou subjetivos; enfim, como
gente deste mundo.
Há
três tipos de escritores, segundo a classificação schoppenhaueriana:
1) os
que escrevem sem pensar, a partir da memória e de livros alheios;
2) os
que pensam enquanto escrevem; e
3) os
que pensam antes de escrever. Estes são raríssimos e, entre os quais, conta-se
o próprio Arthur Schoppenhauer, que viu na solidão a sorte de todos os
espíritos excepcionais.
Schoppenhauer
viu a imprensa como um porta-voz de longo alcance contra a invencível e
onipresente velhacaria, porém condenou o que chamou de “escritores de jornal”,
responsabilizando-os pela deterioração da língua, que é em si uma obra de arte
e deve ser considerada como tal, especialmente por aqueles que se dedicam a escrever.
Seriam eles, a seu ver, os dilapidadores das palavras, meros fabricantes de
livros. Uma gente que costuma empregar muitas palavras para comunicar poucos
pensamentos. E que, por escreverem automaticamente, por dever de ofício, acabam
cometendo excessos que aborrecem a paciência do leitor, dando-nos a impressão
de saber o que não sabem, de pensar o que não pensam e de dizer o que não
dizem.
Eis
aqui uma amostra do pensamento de Schopenhauer:
.A
glória é tanto mais tardia quanto mais duradoura há de ser, porque todo fruto
delicioso amadurece lentamente.
.A
nossa felicidade depende mais do que temos nas nossas cabeças do que nos nossos
bolsos.
.As
pessoas comuns pensam apenas como passar o tempo. Uma pessoa inteligente tenta
usar o tempo.
.Nas
pessoas de capacidade limitada, a modéstia não passa de mera honestidade, mas
em quem possui grande talento, é hipocrisia.
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