O Senhor das Estátuas é o novo livro de poemas de Pedro Du Bois,
apresentado em partes: Poemas para Bez Batti, O Senhor das Estátuas, Matéria
Prima Matéria Bruta e A Revisão pelo Detalhe.
Pode ser lido como o encontro dos extremos que se tocam no pulsar das
apresentações, onde as estátuas se cruzam em nossos caminhos e permanecem na
criação e na arte, como descreve na primeira parte do livro, em que faz
homenagem ao Mestre João Bez Batti, que lapida a pedra e mostra a máscara onde
a face do basalto desenha os fios da vida do homem:
“Sente na pedra a finitude /
e a ultrapassa em golpes / (as razões) irracionais dos ataques / como amar a
solicitude / e aos gritos expulsar / do ato a insignificância // – os dias rápidos em passagens
/ permanecem: na pedra a permanência / aguarda nova explosão – // a transformação se adensa
/ em novas formas / e polimento / e a pedra está além da finitude: o infinito
da obra”.
Du Bois e Batti esculpem a pedra e nos deixam iluminar por ela ao desdobrar o
sonho como única ferramenta da liberdade de criação. A poesia se reflete na
arte quando trabalhada a pedra. Estar diante da máscara é estar ante a criação
das artes plástica e literária, do mundo interior do ser, porque nela
encontramos os sentidos que se rompem na descoberta e sob guardadas vozes. N’O
Senhor das Estátuas não podemos negar que cada poema seja a máscara que se
multiplica nas muitas formas que contemplam o todo e tudo fundamentam no que
pode ser desvelado em gesto e palavra:
“Diante da imagem / chora a
inexistência. // Lava o metal oxidado. / Leva a pedra ao ensolarado / dia de
reconquista. // Deixa a máscara denunciar / a fluidez dos acontecimentos. /
Referenda o nicho / onde reencontra a ideia / da sobrevivência”.
O livro traz poemas que afagam, porque dão curso à estátua ao revelar a arte na
pedra como tradução e reconstrução do pensamento em concretizando ato. Mistério
sendo desvendado, onde Du Bois reinventa a realidade e nos contagia; que na
abstração está a mágica de se ouvir a verdade, quando a vida se fia na máscara
projetada na pedra: “A insolência da pedra na imobilidade. / Não se
constrange diante / adiante / ante que alguém / diga a verdade...”
O autor, através dos poemas, mostra que a pedra pode ser descortinada e
esculpida na construção da vida de igualado tempo e espaço:
“Busca na estátua o
significado / encravado pelo artífice: a dor / a fertilidade / o coroamento / a
desfaçatez / a guarda do corpo / decomposto em tempo. // Rebuscada em sua
esterilidade / a estátua traduz o despropósito / de ser tomada como
referência”.
A obra retrata o dom da pedra para não nos ausentar do mistério da vida.
Os poemas despertam em nós a fonte das palavras, o grito da rotina e o instante
em que a verdade é sempre autêntica em si mesma:
“A estátua sorri / abre os
olhos / boceja / suas mãos retornam / à postura original / do corpo em
movimento: // O senhor imobilizado em medo / não percebe o desejo em seu corpo:
// não acompanha a estátua / em passeio diário. // Guardamos os olhos fechados
/ o pedestal vazio de intenções / e gestos”.
Pedro, ainda, demonstra que a memória atravessa o tempo em nossos corações para
(re) germinar o que um dia foi vivido: “A criança / grita: estátua // A
brincadeira se acomoda / na realidade”.
Sonhamos o
sentido da vida e acordamos em realidades restritas; em outros mundos da poesia, onde nossas verdades ficam reveladas nas artes, como n’O Senhor das
Estátuas, que nos mostra Pedro Du Bois, poeta que talha a pedra, sem lhe
retirar a aspereza, em busca das palavras.
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