Translate

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Impressões de um amador sobre a ópera Olga (João Carlos Taveira)





 
        O 3.º Festival de Ópera de Brasília apresentou, nos dias 3, 5 e 7 de julho de 2013, a ópera Olga, com texto do poeta Gerson Valle e música do maestro Jorge Antunes. O evento, que teve lugar no Teatro Nacional Cláudio Santoro, foi uma oportunidade única para os amantes do gênero e para o público em geral conhecer um trabalho de tamanha envergadura.

        A música de Jorge Antunes, como sempre, delineia as passagens do enredo com bastante clareza, dando a cada quadro seu poder evocativo e simbólico. Isso torna a audição prazerosa e, ao mesmo tempo, provocativa, pois a música parte de leituras populares nordestinas, com utilização de recursos magnéticos, e vai até as referências wagnerianas (Tristão e Isolda no segundo ato), sem deixar de lado elementos genuinamente brasileiros. Uma perfeita simbiose entre popular e erudito.

Quanto ao libreto de Gerson Valle, pode-se dizer em poucas palavras. Simples e enxuto. Claro e inteligível. Embora a história flua perfeitamente sintonizada com a música, facilitando o efeito cênico e teatral, percebe-se nas entrelinhas do texto certa benevolência com a figura de Olga Benário, que de Joana D'Arc não tem nada. E muitos sabem disso. Por outro lado, os retratos de Luiz Carlos Prestes e Filinto Müller estão muito bem caracterizados, na constituição do núcleo cênico da ópera. 

Olga é um espetáculo operístico rico e variado. Tanto o texto quanto a música, apoiados no trabalho de encenação e cenografia de William Pereira, funcionam à perfeição e propiciam momentos de verdadeiro deleite visual e auditivo. Tudo isso, sem falar na firmeza da Orquestra do Teatro Nacional Cláudio Santoro regida pelo maestro Mateus Araújo e na magia do canto de todo o elenco, com destaque para o barítono Homero Velho — estrela maior daquelas noites.

A montagem da ópera Olga em Brasília, sete anos depois da estreia em São Paulo, constitui certamente, com todos os méritos, um marco na história atual da cena lírica no Brasil.

Brasília, 18 de agosto de 2013.

 /////