O
3.º Festival de Ópera de Brasília apresentou, nos dias 3, 5 e 7 de julho de 2013, a ópera Olga, com
texto do poeta Gerson Valle e música do maestro Jorge Antunes. O evento, que
teve lugar no Teatro Nacional Cláudio Santoro, foi uma oportunidade única para
os amantes do gênero e para o público em geral conhecer um trabalho de tamanha
envergadura.
A música de Jorge Antunes, como sempre, delineia as
passagens do enredo com bastante clareza, dando a cada quadro seu poder
evocativo e simbólico. Isso torna a audição prazerosa e, ao mesmo tempo,
provocativa, pois a música parte de leituras populares nordestinas, com
utilização de recursos magnéticos, e vai até as referências wagnerianas (Tristão
e Isolda no segundo ato), sem deixar de lado elementos genuinamente
brasileiros. Uma perfeita simbiose entre popular e erudito.
Quanto ao libreto de Gerson Valle, pode-se dizer em
poucas palavras. Simples e enxuto. Claro e inteligível. Embora a história
flua perfeitamente sintonizada com a música, facilitando o efeito cênico e
teatral, percebe-se nas entrelinhas do texto certa benevolência com a figura de
Olga Benário, que de Joana D'Arc não tem nada. E muitos sabem disso. Por outro
lado, os retratos de Luiz Carlos Prestes e Filinto Müller estão muito bem
caracterizados, na constituição do núcleo cênico da ópera.
Olga é um
espetáculo operístico rico e variado. Tanto o texto quanto a música, apoiados
no trabalho de encenação e cenografia de William Pereira, funcionam à perfeição
e propiciam momentos de verdadeiro deleite visual e auditivo. Tudo isso, sem
falar na firmeza da Orquestra do Teatro Nacional Cláudio Santoro regida pelo
maestro Mateus Araújo e na magia do canto de todo o elenco, com destaque para o
barítono Homero Velho — estrela maior daquelas noites.
A montagem da ópera Olga em
Brasília, sete anos depois da estreia em São Paulo, constitui certamente, com todos os
méritos, um marco na história atual da cena lírica no Brasil.
Brasília, 18 de agosto de 2013.
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