Chegou à minha residência, há uns dois meses, o novo livro de crítica literária
de Nilto Maciel e estava devendo uma justa resenha para a obra. Interessa-me
sempre a forma de escrita de Nilto, que, além de arguta e precisa, mantém uma
característica tão importante e esquecida nos dias atuais: a visão do todo.
Nilto é o crítico que, por meio das minúcias, nos ensina a enxergar e
perscrutar toda a cena literária e não apenas uma pequena parte dela.
Em um mundo de especialistas que cada vez mais conseguem enxergar apenas uma
minúscula faceta de um assunto, Nilto tem a capacidade de sair do micro para o
macro, como não se vê em quase nenhum crítico dos dias de hoje. Este estilo de
crítica literária, do qual o melhor exemplo é o canônico História concisa da literatura
brasileira, de Alfredo Bosi,
não costuma ser escopo de grande parte da crítica, porque, a despeito de sua
qualidade, ele configura uma empreitada trabalhosa demais e de grande fôlego
intelectual.
O que vemos hoje na crítica literária é a crítica das minúcias: a análise de uma pequena tendência dentro de uma obra, obra esta inserida na vasta produção de um ator de um período literário mais amplo ainda. Estudos como o de Nilto – já feitos também pelo sobredito Bosi e outros nomes de igual fôlego intelectual como Antonio Cândido e Sânzio de Azevedo – são raros e, por isso, ainda mais importantes e necessários.
Se
o esforço crítico inicial em Panorama
do Conto Cearense nos dá dados importantes, em uma abordagem rápida de
seu tema, mais bem trabalhado e cristalizado em Contistas do Ceará: D'A Quinzena ao
Caos Portátil, que funciona como uma edição completa do primeiro – uma espécie de história
concisa do conto cearense –, agora, em Gregotins de desaprendiz, temos a maestria de quem já domina a
exposição de um panorama e também o retratar de toda a cena literária de um
período ou gênero e, sendo assim, mostra-nos tudo.
De forma concisa como em Panorama, mas com uma crítica tão apurada quanto a de Contistas, Nilto agora não passeia somente por seus conterrâneos, mas abre o leque para o cenário nacional: é a maturidade crítica de uma vida literária que hoje coroa Nilto Maciel com a facilidade no trato do texto e o olhar apurado para a crítica.
(hapoesiaemcadadia.blogspot.com.br,
blog de Marcos Lima, 31/7/2013)