— Bom-dia,
Geraldo. Tudo bem com você?
— Mas ou menos,
Alfredo.
— Pela sua
expressão, estou vendo que a coisa não anda boa para o seu lado. O que foi que
houve?
— Caro amigo,
lá onde moro a bandidagem está demais. Todo dia tem um presunto na esquina...
Minha mulher anda dizendo que irá me largar, caso eu não arrume um outro canto
para morarmos.
—
E para piorar a situação, estou desempregado, Alfredo.
—
Putz... Estou vendo que as coisas não estão nada fáceis para o seu lado. Mas
mantenha calma que tudo irá se arranjar.
—
Arranjar? Como, Alfredo? Sem emprego e sendo ameaçado de separação? A nega lá
em casa não dá mole, não. Quando ela bate o pé, sai de baixo, porque vem chumbo
grosso.
—
Tá mesmo difícil para o seu lado, amigo.
—
Minha vida está mesmo um caos, Alfredo.
—
Traga mais uma cerveja, pediu Alfredo ao dono do bar.
—
Alfredo, não peça mais. Não vou poder dividir a despesa com você hoje.
—
Calma, Geraldo, hoje a cerveja é por minha conta.
—
Sabe, Alfredo, para completar a minha desgraça, minha filha de 15 anos está
grávida do primo de 17 anos. E tudo cai nas minhas costas. Agora vou ter mais
duas bocas para alimentar. O cabra do meu sobrinho não é chegado a trabalho.
Ele só pensa em ser jogador de futebol.
—
Mas, pelo menos, ele joga bem? Está treinando em algum time?
—
Que nada, Alfredo! Ele joga num timinho de terra batida lá perto de casa. Só
faz firula e nada mais. E o pior, o pai
do desgraçado disse: “Quem mandou você não prender a sua cabrita no cio. O meu
bode crio solto!”
— Nossa senhora! E
você ainda teve que aguentar isso?
—
Quase que voei na goela dele, mas recuei ao lembrar que o safado é cria do
Maurinho Bacurau, o maior traficante do bairro. Sabe como é, desafeto de
bandido veste mais cedo o paletó de madeira. Ainda sou muito jovem para visitar
São Pedro...
—
Agora, os bandidos entraram numa de querer expulsar alguns moradores de pontos
estratégicos para eles montarem suas fortalezas.
—
Poxa, amigo, sua vida está realmente de cabeça para baixo — disse Alfredo.
— E
o pior de tudo, a minha nega agora resolveu fazer greve de sexo enquanto eu não
arrumar outra casa em outro bairro. Ando na maior secura.
—
Porra!, amigo, não sei o que lhe falar, mas acho que você anda precisando
passar num terreiro para se benzer.
—
Ué! Tá pensando que eu não fui! Já
estive lá no centro da cabocla Jurema... Ela disse que em sete dias minha
mulher estaria de boa comigo...
—
Mas deu certo, Geraldo?
—
Deu nada! É por isso que estou aqui enchendo a cara. Quando você chegou, eu já
tinha tomado umas cinco doses de pinga. Preciso afogar as mágoas. Só assim,
esqueço temporariamente as mazelas da minha vida.
—
É, companheiro, não sei como aliviar sua dor. Só posso acompanhar você na
cerva, e ouvir você desabar, se é que isso adianta como consolo.
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