(Rodolfo Amoedo, "Retrato de mulher")
“Tu não prestas, mas eu te amo” ouvi
falar
uma voz pequena que eu não quis
escutar.
Mesmo assim contra toda razão em ti
entrei
e quanto mais eu entrava mais louco
fiquei.
Alegre eu entrei na cova que descia
estreita
cada vez mais funda e com olhos à
espreita.
Passo a passo penetrei numa caverna
escura
em que morava a tua história mais
obscura.
Quem aí entrava nos teus segredos
aprendia
sem querer que o riso para sempre
perderia.
Na lama e no escuro eu tive de me
arrastar,
tive de andar de quatro para ao altar
chegar.
Meus joelhos lanhados, os dedos
sangrando,
o corpo todo sujo, a mente se
despedaçando.
Sobre o altar vi estendida na segunda
guerra,
por fardas cercada a figura de nobre
mulher.
No pátio do antigo castelo em chamas,
oficiais
clamavam a condessa para serviços
inoficiais.
Encarando os inimigos um a um, a mulher
disse:
“Sei qual é o destino das mulheres do
vencido.”
E aditou: “Peço, apenas, me deixem
escolher
o oficial mais belo a quem terei de me
render.”
Uma pequena menina viu sua mãe ser
violentada,
não por um ou por dois, mas pela tropa
formada.
Tu quiseste te tornar aquela que por si
escolhia,
não sei se dessa caverna tu poderás
sair um dia.
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