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segunda-feira, 31 de março de 2014

Eu te saúdo, ó Mestre (Nilto Maciel)





Todo santo dia, Cássio Botelho sai de casa, aí pelas 11 horas, e se dirige a um restaurante. Procura os menos concorridos. Evita filas. Dá uma olhadela nas carnes e se decide por esta ou aquela. Às vezes, a gula o trai e ele deixa o prato pela metade. Sua intenção é nunca se repetir, além de mastigar bem e ter prazer: hoje peixe frito, amanhã carneiro cozido, noutro dia frango, e assim por diante. Senta-se o mais distante possível dos comilões. Conhece o mais profundo asco de pessoas que se comportam como porcos, cachorros, gatos: a cara enfiada no prato. Tem pavor de certos comportamentos dignos de guerreiros romanos ou medievais: enfiam o garfo nas carnes (de animais assassinados), como se matassem feras (cheios de ódio).

O que me prende aqui? (Inocêncio de Melo FGlho)




Portas e janelas estão abertas
Posso fugir
Não consigo passar por elas
O que me prende aqui
Se meus pés não estão presos a este solo?
O que me prende aqui se não me queres mais?
O que me prende aqui se rasgaste os versos que te dei?
O que me prende aqui se portas e janelas me mandam ir embora?
Tento edificar outra indagação
Mas me vem a voz do vento e me silencia
Aquieto-me com meus escritos rasgados e me vou
Com o vento que não me deixa mais falar. 

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domingo, 30 de março de 2014

Mudar (Pedro Du Bois)





 Busco a mudança

no incógnito regresso
ao ventre
exijo outra
        nova
        repetida forma
        na deformação do corpo
        em desconhecimento

tenho o medo resolvido
entre os dedos: a coragem
nas brincadeiras
infantis do reconhecimento

mudo o foco no desatino
das sentenças
em que como igual
                         permaneço.


 

sábado, 29 de março de 2014

Proust e a crítica (Franklin Jorge)





Ainda muito moço, em visita a um tio humanista que vivia enfurnado em sua vasta e bem escolhida biblioteca, descobri em Marcel Proust uma nova concepção de crítica, mais concisa, mais apaixonada, entendida sob um ponto de vista mais amplo e, de tal forma realizada, que representaria ela mesma uma criação literária autônoma e digna da obra que a inspirara.


sexta-feira, 28 de março de 2014

Da Barcelona catalã (Flávio R. Kothe)



  

Enquanto eu voara sobre o Atlântico
em noite calma, sem o menor temporal,
dezenas e dezenas de versos aportaram
como se buscassem por mim um abrigo,
recanto na mala, carimbo no passaporte:
a todos fechei, no entanto, minha porta,
queria dormir um sono que não vinha,
enquanto ao redor ressoavam roncos.

quinta-feira, 27 de março de 2014

João Galamarte (Diogo Fontenelle)





Para o Poeta Prosador Nilto Maciel, um Sempre Menino.

Brinquedinho joão galamarte inventado pelas mãos do avô,
Ou comprado pelas festas dos santos padroeiros do sertão,
Entre joão-teimosos, cavalinhos de pau, e piões de camelô...
João galamarte a pendular nos ares e mares da imaginação...

Infância singela, rendada e bordada à mão pela avó Juracy,
Tecelã de estórias do Faz-de-Conta pelos luares do jardim...
A bordo do joão galamarte, vou pelo impulso do avô Pery...
Tempo entre chamas lilases pelo coração de rosa carmim...

João Galamarte feito do oitizeiro em dia azul ensolarado,
Vai singrando o mar dos sonhares de menino marinheiro
Pelo embarcar e desembarcar de um viver desencantado,
Entre os portos da esperança em florações de jasmineiro...


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quarta-feira, 26 de março de 2014

Carta ao Prof. Dr. Francisco Correia Oliveira (U.F.C.) – Vianney Mesquita




A verdade poderá adoecer, porém nunca perecerá de vez
(Miguel de Cervantes Saavedra – Alcalá de Henares, 1547-1616).


Fortaleza, 19 de março de 2014

Prezadíssimo Doutor Chico.

Há algum tempo sem experimentar a satisfação de abordá-lo, o faço agora com vistas a cumprimentar e abraçar virtualmente o amigo e, na sequência, proceder a comentários – de leigo, evidentemente – a respeito da tese de doutoramento sustentada por um orientando seu, a mim submetida a uma revista técnica, sob o prisma da língua e do estilo.


terça-feira, 25 de março de 2014

A celebração do hedonismo na poesia de Regina Lyra (Reynaldo Valinho Alvarez)




            Atos em Arte, de Regina Lyra, é um livro muito bem afinado com a personalidade da autora.  É, portanto, um livro fiel ao comando afetivo de Regina.   Seus sentimentos nele se projetam como corpos despidos em praias que se abrem para a intensidade do sol tropical, sem rebuços, acanhamentos ou timidezes, plenos do cálido desejo de se ofertarem à mornidão dessas longas tardes infindáveis, repletas de sensualidade e preguiça.

           

segunda-feira, 24 de março de 2014

Minhas memórias dos outros sobre o “Contestado” (Enéas Athanázio)




 
A chamada Guerra ou Campanha do “Contestado” aconteceu entre 1912 e 1916, de modo que só uns trinta e tantos anos depois é que tomei conhecimento dela. Tudo o que sei a respeito veio dos livros e de informações de outras pessoas, mas é a estas que desejo me ater neste comentário, para que não fique uma coisa livresca como tantas.


domingo, 23 de março de 2014

Coração (Teresinka Pereira)





Se tens um coração de ferro, bom proveito.
O meu, fizeram-no de carne e sangra todo dia.

                                 José Saramago



Meu coração
abraça a nostalgia
e recorda fantasmas
de amores
vividos.
Desfeitos os anos de primavera,
amanhecemos um dia
com a dignidade
obrigatória
no coração

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