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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007
Nilto Maciel, fiel às raízes populares (Adelto Gonçalves)
Uma mulher jovem e atraente, de nome Helena, cai da torre do sino da igreja-matriz de Palma, pequena cidade perdida no interior do Brasil, e nada leva a crer que tenha cometido o desatino de suicidar-se. Morte misteriosa e escandalosa que vai quebrar a rotina modorrenta da cidadezinha. Este é o mote que leva o escritor Nilto Maciel a construir um denso e breve romance negro, A última noite de Helena, em que a elucidação do crime, como nas boas novelas policiais, só ocorre ao final, depois de muito mistério e infundadas suspeitas.
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
A prova (Nilto Maciel)
Dalila falava de Sansão. Contava casos, proezas. Eu me impressionava. Sempre me impressionaram mulheres bonitas e, ao mesmo tempo, decididas, corajosas, ousadas. A beleza delas talvez me venha dessas qualidades.
Cativo dela, perdi a timidez e fiz a pergunta-chave: por que traíra Sansão? E a resposta veio categórica: porque não gostava dele.
Da agradabilidade (Soares Feitosa)
Fui conferir: o Aurélio me disse que o nome não existe: agradabilidade. Mas é essa a sensação que tenho ao ler Nilto Maciel. E isto já me detona uma pergunta: lê-se para quê? Alguns buscam roteiros, digamos, formulações de estudos, teorias, salvações e ajudas de todo o naipe. Outros buscam simplesmente o prazer. O prazer de ler.
terça-feira, 20 de fevereiro de 2007
Circuito (Nilto Maciel)
“Entramos nos quarenta anos com a inexprimível idéia de que o nosso simples e silencioso matrimônio de irmãos era o fim necessário da genealogia fundada pelos bisavós em nossa casa.”
Julio Cortázar, Casa tomada.
Cansados de vagar pelas ruas, famintos, Daniel e Irene pararam diante de um bar. Se não encontrassem comida, ao menos descansariam. Outra pousada talvez não houvesse por perto.
O garçom ofereceu-lhes vinho, cerveja, vodca, uísque. Aceitaram vinho com salame. Ela abaixou a cabeça, quase até a tábua da mesa. Ele olhava sutilmente para os outros bebedores. Um deles, exaltado, falava mal do governo. Outro cochilava diante do copo. Havia bigodes volumosos, barbas ralas, dentes luzidios, olhos faiscantes.
O corpo que cai (Manoel Hygino dos Santos)
O primeiro parágrafo de "A última noite de Helena" leva a admitir que se terá algo que lembra "Um corpo que cai", o belo filme de Hichtcock. Mas logo se verifica que a idéia inicial é falsa. Porque o livro de Nilto Maciel é, antes de tudo, eminentemente brasileiro, sem os cenários e personagens magistralmente levados à tela pelo cineasta inglês. Mas o leitor haverá de convir com a semelhança. Helena morreu ao cair da torre do sino da matriz de uma cidade pequena do interior, onde todos, ou quase, se conheciam. Segundo as investigações, a jovem não pulara, descartando-se a hipótese de suicídio. Morte misteriosa e escandalosa, porque em Palma nunca se matava mulher. Sequer nos cabarés, onde frequentemente se registravam desordens. Quanto mais em uma igreja, onde só falecia o filho de Deus, mesmo assim durante a missa.
domingo, 18 de fevereiro de 2007
Vou ser herói, Maria (Nilto Maciel)
Transtornado, o homem recusava abrir a porta do elevador. Se do lado de fora estivesse um tigre à sua espreita? Vários tigres? Um horror! E tremia todo. Não conseguia nem sequer se manter em pé. Melhor sentar-se. E esperar, esperar, esperar. Passaria toda a noite, e quantas noites fosse preciso passar, dentro do elevador. Não, morreria de inanição e tédio. E se o tigre, os tigres abrissem a porta? De manhã os vizinhos, sua mulher só encontrariam alguns ossos. Nunca saberiam como e por que sumira tão misteriosamente. A ossada poderia ser de outro. Talvez de um cachorro grande. Nunca de um homem, dele. Não havia canibais na cidade. Nenhuma notícia deles.
A última noite de Helena (Dias da Silva)
(Igreja matriz de Baturité, isto é, de Palma, de cuja torre Helena foi jogada)
O lançamento deste livro de Nilto Maciel foi uma festa bonita. Com bastante gente enchendo o salão. Leitores muitos, portanto. Com certeza, em vista do valor da obra lançada e do destaque do Autor em meio às letras cearenses.
Ora, isso bota muita alegria na gente. Como um triunfo. Imagine-se o que vai na alma do autor flechando-lhe o espírito. Porque, amigo leitor, são pessoas se reunindo em torno de livro. Por causa de livro. E toda aquela gente estava ali, naquela noite, para festa de livro. Porque o contrário é o mais acontecido: número reduzido de público nesses momentos. Quase sempre. Por isso, foi uma coisa que encheu a gente de renovada admiração.
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007
A salvação da alma (Nilto Maciel)
Constantino acordou sobressaltado. Mais um minuto de sono e chegaria atrasado à igreja. O padre estaria nervoso e seria capaz de o mandar embora.
— Você não se emenda, traste — brigava a mulher.
Aquilo acontecia quase todo dia. Saía da igreja e entrava nas bodegas. E bebia feito uma raposa. Insaciado, antes de ir para casa, Constantino pedia uma garrafa cheia e mandava o bodegueiro anotar a despesa. No fim do mês, quando o padre pagasse o ordenado, saldaria a dívida.
A noturnidade de Nilto Maciel (Batista de Lima)
A leitura de A última noite de Helena, de Nilto Maciel, necessita de outras leituras complementares para seu melhor entendimento. Uma delas é de seu livro anterior, A guerra da donzela, onde ocorre o pretenso rapto da heroína, nos moldes do que ocorre com Helena, na Ilíada, de Homero. Nesta última novela ocorre a morte de Helena, e todo o enredo se desenvolve através do desvendamento do crime.
sábado, 10 de fevereiro de 2007
Consciência tranquila (Nilto Maciel)
D. Evinha ainda parecia nervosa. Um milagre não terem morrido. Aquele maluco devia estar preso, bem preso. Para nunca mais quase matar pessoas indefesas. Nereida chorava de vez em quando, embora não tivesse nenhum ferimento. Apenas uma pancada no joelho.
***
Preocupado com as conseqüências do pequeno acidente, Silvano se lamentava: quisera apenas ajudar a velhinha. Coitada, sob aquele sol do meio-dia, esperando ônibus! Mara, porém, duvidava ter sido esse o motivo da atitude do marido. Não teria parado o carro por causa da mocinha?
O olho trágico de Homero (Jorge Pieiro)
Qual leitor não se torna escravo de uma bem urdida narrativa de mistério? Quem não se vê, temporariamente, transformado em arguto investigador? Por quais caminhos pode seguir um curioso ledor em busca da revelação, do desenlace, que o faça extasiar-se, ou mesmo frustrar-se? São apenas algumas questões fundamentais que se devem prenunciar na mente de um escritor que se aventura pelos meandros dos textos de suspense.
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007
Colombo e as carícias (Nilto Maciel)
(Jangadeiro, Theo Amaral)
Desnorteados, Colombo e sua jangada vagavam pelo mar das tempestades. O sol há muito se metera nas profundezas das águas. Nenhuma estrela indicava rumos.
Era esperar pelo pior. Horas e dias de perdição, fome e sede. Depois a morte.
E o jangadeiro adormeceu.
As correntes, entanto, levavam a jangada ao reino do deus-dará. E antes do amanhecer aportou numa remota ilha. Encalhou na praia.
O abismo (Manoel Hygino dos Santos)
Ronaldo Cagiano já me alertara para os méritos de Nilto Maciel no difícil campo das letras. Agora, Vasto Abismo, novelas, comprova-me a qualidade literária desse cearense de Baturité, radicado em Brasília, feliz trabalhador na poesia e na prosa, já com tradução ao esperanto, espanhol, italiano e francês. Maduro, como o vê João Carlos Taveira, “não é só um escritor. Além de um bom escritor e de um imprescindível articulador literário, é o artista da palavra que sabe compreender e assimilar os avanços estilísticos de seu tempo. E, como tal, procura, sem nenhuma demonstração de cansaço, o aperfeiçoamento do próprio estilo, para melhor conduzir a narrativa na construção de seus personagens”.
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