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domingo, 30 de junho de 2013

O sertão de Riobaldo – 1 (Enéas Athanázio)





Entre os mais célebres personagens da literatura nacional está, sem dúvida, Riobaldo Tatarana ou Urutu Branco, o narrador de “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa. No prolongado relato de suas vivências de jagunço-filósofo, ele faz desfilar impressionante e variada galeria de figuras e personagens, muitas delas de nomes estranhos, criadas pela inesgotável imaginação de Guimarães Rosa. Algumas são fugidias e desaparecem sem deixar vestígios; outras, ao contrário, vão impondo sua personalidade e permanecem atuantes até o fim do romance, muitas vezes em posição de destaque.

sábado, 29 de junho de 2013

Resumir a termo (Carlos Nóbrega)











O meu verso pouquíssimo importa,
A vida sim é que é grande.
As carnaubeiras dão asteriscos verdes ao ar ido,
sem nunca me terem lido.
Árido não será isto: a solidão de uma planta
inscrita numa paisagem rude.
Áridos serão meus versos
            que nunca produzem palmas.
Tudo vive.
Poetas resumem, e mal.


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sexta-feira, 28 de junho de 2013

Simenon, Hammett de bombacha e mate (W. J. Solha)



(Nelson Hoffmann)

O nome do homem – vê-se que descende de alemães – é Nelson Hoffmann, de Roque Gonzales, Rio Grande do Sul, o advogado, contabilista, que criou um personagem excepcional, o advogado, contabilista, Dr. João Roque Landblut – vê-se que descende de alemães –, espécie de Holmes e Maigret amador, de Três Martírios, Rio Grande do Sul. Esse Landblut, já bastante conhecido por casos anteriores – tendo sido o principal O Homem e o Bar (romance de 1994) , fatalmente se tornará famoso, agora, com A Mulher do Neves – coedição Ledix e Editora da URI, 2013.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Reinícios (Pedro Du Bois)









reiniciados tempos onde nos escondemos
dos encontros atrasados

era para termos voltado
e a casa ainda está fechada em retornos

quarta-feira, 26 de junho de 2013

O escritor-estadista (Franklin Jorge)





 (Thomas Mann)

Escrevendo à sua amiga Hilde Distel, disse Thomas Mann que o artista é como um príncipe, na medida em que, como um príncipe, leva uma existência representativa. Baudelaire, por sua vez, definiu o artista como um farol, cuja existência serve para estimular nos outros homens uma participação efetiva nas ações cotidianas.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Poema inacabado (Hilda Mendonça)



 










Tu és
Adeus que não foi dito;
Lágrima que não caiu;
Beijo que não foi roubado;
Abraço que foi negado;
Sonho que não foi sonhado;
Vida que não foi vivida;
No entanto, meu amor,
Preenches num instante
Todo o meu espaço de viver!

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segunda-feira, 24 de junho de 2013

Por que escrevemos? (Nilto Maciel)





Numa dessas tardes preguiçosas, após almoço farto, senti vontade de sonhar. Andava com saudade de umas paisagens ou lugares antigos: casas de parede-meia, duas janelas, porta alta, sem muro, calçada de cimento, chão da rua coberto com pedra tosca ou paralelepípedo, um jumento a pastar, uns pombos a arrulhar, uma carroça a passar e meninos a correr atrás de bola. Saudade de umas pessoas esquecidas, talvez nunca vistas. Por pouco, não cochilei na cadeira da sala. Animou-me e assustou-me o chamado estridente da sirena. Então me lembrei de ter combinado com minhas alunas e meu discípulo novos um cavaquinho sem pauta: tema livre. O mote ficaria por conta do acaso.


domingo, 23 de junho de 2013

Jacob (Emanuel Medeiros Vieira)



(Jacob Gorender)

Em memória de Jacob Gorender, falecido em 11 de junho de 2013, e cuja morte não obteve a repercussão que deveria ter tido – se tivesse nascido num país decente e que cultivasse a memória.
(Mas não ele era “celebridade”, não era fútil, nem cantor de pagode, axé, funk, nem de música sertaneja idiotizada – não sertaneja de raiz –, ator de novela ou jogador de futebol).


No calor da hora: informam que morreste.
E foste combatente – mesmo nas trevas.
(Num país de poucos combatentes e de raros pensadores.).
Deixaste um legado (quantos deixam?): foste um denso intelectual marxista,
Um lutador torturado, um pensador.
Quando aprenderemos a conviver com a divergência?
Mas tudo ficou menor – não há debates, mas desqualificação de adversários, e o deslumbramento, a velhacaria, a mediocridade, a ignorância, o saque do bem público e a mais reles futilidade tomaram conta não só dos que estão mandando – mas do país inteiro.
Pior: é uma corrupção interior.
Uma resignação covarde.
E para subir, acreditam que é preciso dar cotoveladas nos outros.
E aí estamos:
Informam que 11% dos assassinatos ocorridos no mundo são cometidos no Brasil.
O que foi feito da chamada “esquerda” brasileira?
Ela existe ainda?
Terá sido inútil essa luta pretérita – quando tantos foram torturados, morreram nas masmorras da ditadura ou passaram os melhores anos de suas vidas no exílio?
Perdoa-me, Jacob:
merecerias um texto mais sereno.
Entende-me, combatente: escrevo no calor da hora.
A gente transfere as ações e obrigações. Não o tempo.
Um dia, as contas serão acertadas e já pagamos um preço tenebroso.
Ilusões perdidas?
O combate continua nas trevas, mais indigno, mais corrompido – adeus, combatente baiano e universal, que se foi aos 90 anos.
(Não somos obrigados a concordar com tudo para respeitar alguém).
Algum farol iluminará essa escuridão (iria qualificá-la de dolorosa), mas prefiro chamá-la (esta sombra) de mesquinha.
(Eu sei: vão me chamar de “pessimista”: há tanta gente com Bolsa-Família e com carnê das Casas Bahia...).
Até!

(Salvador – onde nasceste em 20 de janeiro de 1923 –, junho de 2013).

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sábado, 22 de junho de 2013

O fazer crônica ao lume da poesia (Diogo Fontenelle)



Bruno Paulino garimpa memórias – acontecidas e sonhadas! – ao longo de suas vivências de menino sertanejo. Nesse tear de gemas e gemidos, o jovem prosador lança mão dos lápis de cores do seu coração marinheiro a azular as miudezas do dia a dia mesquinho, a “...esverdejar”, qual berilo esmeralda, esperas e esperanças vazadas pelas negações e ausências do viver nordestinado.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Uma leitura necessária: Jorge Amado (Daniel Barros*)



                                                          (Jorge Amado)


Pensei em começar esta resenha com: acabei de ler Hora da Guerra, mas não ficaria bem começar algo com o verbo acabar, sobretudo esse primor que é o livro de crônicas escritas entre 1942 e 1945, publicadas na coluna de mesmo nome no jornal baiano O imparcial, escrito pelo itabunense Jorge Amado. (Vale ressaltar que existem algumas divergências sobre o local de nascimento do escritor. Alguns biógrafos afirmam que ele nasceu na fazenda Auricídia, à época município de Ilhéus, mais tarde suas terras ficariam para o município de Itajuípe. O fato é que acabou sendo registrado no povoado de Ferradas, pertencente a Itabuna. O que importa é que é um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos). E nessas crônicas demonstra toda a sua paixão em defesa da democracia e indignação com o fascismo.


quinta-feira, 20 de junho de 2013

Diário de um ladrão (Paulo Lima)




Notas no twitter do ladrão F., ue praticou roubo contra a residência do casal SW, seguido de morte do animal da família. O cachorro TJ era um legítimo policial alemão considerado modelar pela vizinhança. Ele havia ganhado o concurso de Vigilante do Ano da revista Cães Famosos. Um detalhe curioso: a cultura literária do meliante.

terça-feira, 18 de junho de 2013

A intensa poesia de Regina Lyra (Tanussi Cardoso*)





Regina Lyra busca, em seu novo livro de poemas Vão da Palavra, o espaço oco, o vácuo dos significados entre as palavras: o intervalo entre o silêncio e o barulho; entre o mínimo e o máximo; entre o supérfluo e o essencial; entre o grandioso e o simples. Sua poesia transita nesse vazio, nessas reticências, nesse ar sufocante entre o que inexiste e o que existe; entre o ilusório e o real. Entremeios e Entre Nós (título de um de seus livros). A poeta nos ensina a ser no meio desses vãos entrelaçados, diante de seus nós. Mostra-nos que a palavra resiste e nos consola, emergindo em seu fantasioso e fantástico mundo de imagens, mistérios, signos e enigmas. Assim, entre reticências e entrelinhas, no osso debaixo da pele, na raiz que existe antes da semente e da planta, na fala que vem antes da voz, Regina Lyra nos ensina que somente a poesia (o poema) pode nos salvar desse enganador mundo em que vivemos:

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Enigmas de Caio, Luciano e Adriano (Nilto Maciel)





            Hoje me dedicarei a três seletas, duas de prosa e uma de verso. Ou uma de relatos, outra mista e mais uma só de acordes. Ou não será assim? Todas de feição modesta: poucas páginas. Quanto aos autores, dois são cearenses e meus amigos; o outro é alagoano e não conheço. As obras são Veredas da caminhada (São Paulo: RG Editores, 2011), de Caio Porfírio Carneiro; Aliterar versos 20/60 + alguns instantâneos (Fortaleza: Expressão Gráfica, 2013), de Luciano Bonfim; e Laringes de grafite (Porto Alegre: Vidráguas, 2012), de Adriano Nunes.

domingo, 16 de junho de 2013

Livros (Teresinka Pereira)





     





Smart fone
Biblioteca de bolso
Quem lê isso ?

Mas o livro de papel
desafia o tempo,
veste-se de palavras
e de eloquentes interrogações,
nutre-se de pensamentos
e de sonhos.
O livro é um enorme lugar
recorrente de trajetórias vividas
que provocam mais viver.
O livro que se lê
é uma janela aberta ao saber.

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