Quase
todo dia batem palmas diante de minha casa ou acionam a sirena do portão.
Ninguém me vê, pois o muro é alto e a grade de metal não tem brechas. Se
quiser, posso enxergar a rua, pelo olho mágico. Se não desejar sair ao jardim,
dirijo-me à janela de um dos quartos: Quem é? Na maioria das vezes, são
missionários cristãos. Queremos falar da palavra de Deus. Desculpem, mas estou
de saída. Arranjo sempre uma desculpa (mentira), para não abrir as portas de
minha morada aos pregadores.
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sexta-feira, 30 de novembro de 2012
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
O som que rola (Carlos Nóbrega)
O ruído metálico de uma porta de enrolar
abrindo-se na vendinha:
é tão manhã.
É tão rigorosamente manhã
na alma grossa do velho bodegueiro
o subir estrepitoso desta placa ondulada ...
Mercadorias humildes amanhecem nubladas
e o primeiro freguês, que não compra nada,
sai com o seu bigode de antigamente
ouvindo da gaiola pendurada
o canto desesperançado de uma avezinha
a se debater no impossível voo ...
Ai a grande poesia desamparada das lojas falidas!
/////
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
O Malba Tahan de Platão (W. J. Solha)
O
Homem que Calculava (de Malba Tahan) e Mênon (de Platão) são livros que
consagram raciocínios absurdos de resultados aparentemente corretos. A
diferença é que a engenhosa brincadeira do primeiro, é engenhoso engodo pra nos
convencer da imortalidade da alma, do segundo. Malba conta que seu protagonista
viajava na garupa do camelo de um amigo, quando se interessou pela discussão de
três irmãos sobre como dividir os trinta e cinco camelos herdados do pai, de
modo que (conforme o testamento) o mais velho ficasse com metade do lote, o do meio com um terço e o
caçula com um nono, o que seria impossível sem que alguns animais fossem
retalhados, pois os números obtidos não eram
inteiros. Esperto, nosso herói ofereceu a montaria que não era sua pra
arredondar as contas e imediatamente refez a partilha, agora com mágica
vantagem para todos, pois o primeiro, em lugar dos 17 e meio camelos ficou com
18;o segundo, que teria direito a 11 e um quebrado, ficou com 12; o terceiro,
que ficaria com 3 camelos e pouco, ficou com 4 e, como a soma 18 + 12 + 4 dá
34, sobraram dois animais, um dos quais voltou ao amigo que dera a carona, o
outro ficou pra ele. O segredo está no fato de que a soma de um meio, mais um
terço, mais um nono não dá um inteiro.
terça-feira, 27 de novembro de 2012
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
O ritmo dos pássaros e dos fantasmas (Jorge Elias Neto)
Uma ilha dentro da ilha. Poderia
definir assim o local onde conversávamos, tranquilamente, sobre literatura. A
constante discussão, entre os raros interessados, sobre a evolução – aí já se
encontra embutida uma fonte de discordância excitante – que
ocorreu na poesia brasileira nos últimos cem anos... Bravos companheiros e
fantasmas, nós, na ante-sala do auditório da Biblioteca Pública Estadual. Uma
ilha dentro da ilha...
domingo, 25 de novembro de 2012
sábado, 24 de novembro de 2012
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
Livros que W. J. Solha gostaria de ter assinado (Nilto Maciel)
Não sei se
as palavras que virão nesta crônica (talvez no meio do caminho vire resenha ou
artigo) terão algum valimento, quer como registro para uma história ampliada da
literatura brasileira do começo do século XXI, quer como publicidade do
impresso que tenho diante dos olhos. Pronto: dei início à crônica. O objeto
dela é o compêndio Sobre 50 Livros
(Brasileiros/contemporâneos) que eu gostaria de ter assinado, do
multiartista W. J. Solha, batizado Waldemar José Solha, filho de Sorocaba, São
Paulo, e, em 1962, adotado pelo Estado da Paraíba.
Na quarta
capa do volume lê-se uma explicação. Trata-se de “homenagem que faço aos
escritores brasileiros – muitos deles conterrâneos paraibanos – que mais me
marcaram no que lançaram suas criações, nestes últimos anos. Não sendo
profissional de crítica literária, dei-me ao luxo de nunca publicar nada acerca
de obras que não me agradaram. Com isso, a simples presença, aqui, do
comentário abordando um romance, ensaio, poesia, coletânea de contos, memórias,
já é um elogio que faço a seu autor. Houve, claro, belos trabalhos em cima dos
quais não fui capaz de uma análise competente, o que significa se um e outro
texto não foi mencionado, não é sinal de que o rejeitei. A intenção, em cada
tentativa de interpretação, foi a de aprender com o que acabara de ler, juntando
à emoção da leitura o grande prazer da descoberta, que apenas se torna
completa, se repartida”.
O
articulista/cronista justifica o pequeno número de peças reunidas no tomo de
que tratamos, apesar de homem de muitas leituras (como todo cidadão das letras).
Não sendo “profissional de crítica literária”, optou por se debruçar apenas
sobre seus conterrâneos. Ou seja, não se sentiu tentado a “criticar”
estrangeiros célebres, tão estudados (vida e obra) que pouco resta ao crítico,
a não ser inventar. Além disso, preferiu dedicar algumas linhas apenas aos
escritos que lhe deram mais deleite. Não todos, por se sentir incapaz “de uma
análise competente”. Outra explicação para o número reduzido de estudos parece
estar no motivo de somente há pouco tempo ter se interessado pela prática da
resenha.
O modo como
Solha trata as composições literárias alheias é sui generis. A
começar pelas ilustrações de que se vale: fotografias de monumentos antigos e
de paisagens modernas, quadros famosos, capas de livros, cartazes de filmes,
rostos de escritores, etc. Na verdade, o que ele faz é uma associação de
ideias: certo verso lembra determinada cena de filme; o assunto de um romance
remete a uma ópera; algum conto traz de volta uma pintura clássica. E isso só é
possível pela riqueza da memória do cronista, que, por sua vez, só se
concretiza em razão do acúmulo de conhecimentos em quase todos os campos da
cultura: literários, cinematográficos, dramatúrgicos, musicais, pictóricos,
etc. Ao se reportar ao meu romance Carnavalha, fez
as seguintes alusões ou referências: primeiro às dez pragas do Egito (Bíblia);
estas lembraram a chuva de rãs no filme Magnólia, de Paul
Thomas Anderson; este o conduziu à música It’s Raining Men,
Halleluyjah! (Está chovendo homens, Aleluia!), “que por
sua vez me leva ao quadro A Queda – Chuva de
Homens, de René Magritte”. Não se trata de simples eruditismo ou de
pedantismo (próprio dos jovens e dos ignorantes). Não, não é isso, pois Solha é
mesmo um erudito que tem a virtude de mostrar (transmitir) aos leigos ou aos
jovens os seus saberes.
Os breves
estudos reunidos no tomo aqui noticiado são aulas que nem nas melhores
universidades talvez aconteçam. Veja-se o primeiro assunto da coletânea: o
poeta Ivo Barroso ou, mais especificamente, o conjunto de poemas A Caça Virtual:
“De repente dou com um trecho de poema longo (Papel & Chão), em que, em
poucos e lindos versos, leio o que me custou um romance inteiro pra dizer”. E
eis a lição: a poesia (a boa poesia) é capaz de pintar em poucos versos o que
um romance só pode mostrar em dezenas de páginas, em narração às vezes
enfadonha.
Solha dá a
mesma atenção tanto a poetas e ficcionistas consagrados como a principiantes ou
provincianos ou pouco vistos nas estantes das livrarias. O objetivo dele é
divulgar a literatura de nossos patrícios. “Autores consagrados” é expressão um
tanto falsa, pois quase todos nós somos “ilustres desconhecidos”. O termo
“provinciano” pode soar como depreciativo, vez que “província” nos lembra
passado muito recuado e atraso. Entretanto, é preciso reconhecer que alguns
entes federativos do Brasil ainda não lograram se livrar do epíteto indesejado.
A obra
“crítica” de W. J. Solha sonda livros (quase todos) oriundos de pequenas
editoras (João Pessoa, Fortaleza, etc.), que jamais serão vistos nas
prateleiras das redes nacionais de exposição de impressos. Um ou outro saiu por
casa do Rio de Janeiro ou de São Paulo. E o crítico sabe que a qualidade de uma
peça literária não está no selo ostentado na capa. Pois quem há de negar o
enorme valor de cultores das letras como os cearenses Batista de Lima, Dércio
Braúna, Luciano Maia, Soares Feitosa? Ou o gaúcho Pedro Du Bois, o capixaba
Jorge Elias Neto, os paraibanos Sérgio de Castro Pinto e Hildeberto Barbosa
Filho? Os leitores mais sofisticados, os que só leem livros de livrarias
luxuosas e se orientam pelos releases estampados nos cadernos de cultura,
certamente não os conhecem. Mas conhecerão e saberão por que Solha os leu e a
eles destinou algumas linhas. Os outros, mais conhecidos (chancelados por
editoras de São Paulo e Rio de Janeiro), também não ficaram de fora, que Solha
não tem preconceito, seja de etnia, credo religioso, ideologia política,
comportamento sexual, etc. Assim, no compêndio aqui comentado se veem
belíssimas crônicas (podemos chamar assim?) em homenagem a Affonso Romano de
Sant’Anna, Carlos Trigueiro, Esdras do Nascimento, Ivo Barroso, Marília Arnaud,
Moacyr Scliar, Rinaldo de Fernandes, Ruy Espinheira Filho, e também Abelardo
Jurema, Aldo Lopes de Araújo, Bráulio Tavares, Cláudio B. Carlos, Cláudio José
Lopes Rodrigues, Clemente Rosas, Georges Perec, Glauco Mattoso, Hugo Almeida,
Jessier Quirino, José Bezerra Cavalcante, José Bezerra Filho, José Jackson
Carneiro de Carvalho, José Nêumanne, Marluce Suassuna Barreto Maia, Otávio
Sitônio Pinto, Paulo Vieira, Ronaldo Monte, Tarcísio Pereira, Vitória Lima e
Wills Leal.
A última
página destes 50 livros que W. J. Solha gostaria de ter assinado traz uma carta
dele a mim. Trata-se de lição de história, de Vulgata, de latim
e de Borges, ao interpretar meus Contos reunidos.
Lição e elogio, ao mesmo tempo: “é uma delícia ver tal virtuosismo que chega a
ser maneirista, num conto” (refere-se ao “A pálida visitante”).
Fortaleza,
21 de novembro de 2012.
/////
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
Ouvir (Pedro Du Bois)
(Almoço na relva, de Edouard Manet)
Ouço no canto o grito do silêncio
nas madrugadas que se ofertam
em oportunidades perdidas
aos dias que se anunciam:
o estupor do corpo
ante a luz
amanhecida
aterroriza o gesto
depois da hora
ouço o desencanto da voz
em conversas e desdouros
o grito sutil da descoberta
do corpo sobre a relva
amanheceres repõem
dúvidas desconsideradas.
/////
Diagramas do humano constelam Ceará Mirim (Márcio de Lima Dantas*)
1. Uma assinatura escritural
Walter Benjamin, no ensaio “A imagem de
Marcel Proust”, relembra que todas as grandes obras literárias ou inauguram um
gênero ou o ultrapassam. Esse caráter de excepcionalidade de um texto adequa-se
muito bem a um nosso arremedo de classificação dos textos que compõem o livro
O Céu do Ceará-Mirim. Tal fusão de gêneros diversos já havia se manifestada
no livro O Spleen de Natal, no qual poucas vezes a linguagem advinda do
jornalismo, tradicionalmente vinculada à função referencial da linguagem,
adquiriu, por meio de vários artifícios estilísticos, uma dimensão estética
consubstanciada em uma dicção que ostensivamente (e naturalmente) faz irromper
a função poética da linguagem, que, em certas passagens de alguns capítulos,
passa a ser a dominante.
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
O último ato (Paulo Lima)
Éramos
os Rat Pack sem a fama, o charme e o talento dos Rat Pack. Foi tudo ideia de
Bruno, o intelectual do grupo. Ele manjava horrores de cultura americana, mesmo
sendo tão jovem. Herança do pai, um fã incondicional de Frank Sinatra e seu
bando: Sammy Davis Jr., Dean Martin e Peter Lawford. Para Bruno, a Cultura e a
História eram fontes inesgotáveis de sentidos e respostas. Mas no fundo éramos
quatro universitários sem eira nem beira, uns estúpidos classe média autocomplacentes
e com mania de grandeza. Isso é o que a gente era.
Lançamento de "Misto Códice" pela Sarau das Letras
A Sarau das Letras Editora Ltda., de Mossoró-RN, e a Trilce Ediciones, de Salamanca - Espanha, convidam para o lançamento de Misto Códice - Códice Mestizo, poemário bilíngue de Paulo de Tarso Correia de Melo, traduzido e prefaciado pelo professor Alfredo Pérez Alencart, da Universidade de Salamanca.
Academia Norte-rio-grandense de Letras
Rua Mipibu, 443, Natal-RN
Dia 22 de novembro de 2012
(quinta-feira) - às 18 horas
Contatos:
- David de Medeiros Leite..... davidmleite@hotmail.com
- Clauder Arcanjo.......... clauderarcanjo@gmail.com
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