A gente
nunca sabia quando Alice ia dar o show. Ela
irrompia rua abaixo aos gritos, cabelos alvoroçados, como se tivesse acabado de
ver assombração. Os pés estavam sempre descalços. Usava uma saia um pouco acima do
joelho, naquele limite suficiente para fazer disparar a imaginação. Uma
camiseta, que ela usava sem sutiã, completava o conjunto.
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quinta-feira, 31 de outubro de 2013
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
Viajante (Clauder Arcanjo)
“Esses homens talvez morram com uma tremenda quilometragem
a seu crédito, mas nunca foram a lugar nenhum”. (E. B. White, em Aqui está Nova York)
Quando
criança, o choro. Chave para subir nos braços da mãe e caminhar. Pra lá, pra
cá. Pra cá, pra lá.
Jovem,
a decisão: pé na estrada. A descobrir novos horizontes, segredo para entrar nos
céus de outras cidades. Pra lá, pra cá. Pra cá, pra lá.
Adulto,
a escolha do meio de vida: viajante. Com a bolsa de produtos a tiracolo, a
descobrir clientes. Pra lá, pra cá. Pra cá, pra lá.
Hoje,
cansado, olhos baços postos nos chinelos puídos, e uma dor no peito magro.
Preso no asilo, e com a cadeira de balanço a ringir, ao sabor da monotonia. Pra
lá, pra cá. Pra cá, pra lá.
/////
terça-feira, 29 de outubro de 2013
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Malagrida: o último supliciado pelo fogo (Adelto Gonçalves*)
I
O
confronto entre Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), conde de Oeiras
e, depois, marquês de Pombal, secretário de Estado dos Negócios do Reino, com
os jesuítas teve o seu epílogo com a condenação do padre Gabriel Malagrida
(1689-1761) ao garrote e à fogueira da Inquisição na Praça do Rossio, em
Lisboa. Um ato de barbárie explícita que, mesmo no século XVIII, horrorizou o
mundo civilizado, que já havia ficado chocado com a morte dos Távoras em 1759,
acusados de tramar um atentado contra a vida do rei d. José I (1714-1777).
domingo, 27 de outubro de 2013
sábado, 26 de outubro de 2013
Mosaicos de ruínas (Tânia Du Bois)
“Passei anos a olhar / para as coisas que se destroem. / Muros de pedra
/ casas antigas, alpendres estrangulados...// Nem que o lugar / se tomasse de
ruínas...” (Jorge Tufic)
Tarde
de domingo. Do mar, escuto o que diz em voz alta. A vida senta-se, desconfiada
do mundo, ao perceber que a nossa história não está sendo ouvida e pouco
preservada e que as palavras caem como chuvas em chamas: as ruínas culturais,
emocionais e materiais. Segundo Tatiana T. Coelho, “vivemos de ruínas... /
por outrem descobrimos os que fomos, / buscamos encontrar o caminho e nos
deciframos”.
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
Vassoura atrás da porta (Nilto Maciel)
Everardo
Norões me presenteou com cinco livros da Companhia Editora de Pernambuco.
Exerce ele o cargo de presidente do Conselho Editorial. Os impressos são O sanfoneiro do Riacho da Brígida,
de Sinval Sá; 100 Poemas
escolhidos, de Mauro Mota; Um
sertanejo e o sertão, de Ulysses Lins de Albuquerque; Mulheres e rosas – Vida e sonho –
De monóculo, de Austro-Costa; e A
personagem dramática, de Rubem Rocha Filho.
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
A fórceps (Carlos Nóbrega)
O que cantar
de tão magra
musa
de tão pó a
flora
e lira tão
penosa?
Entre mágoa e
míngua
a imaginação
estia
a se repetir no
se-repetir
do lacrau
caatinga
e das mãos ao
alto
dos mandacarus.
Oh que torrão
enxuto
Oh mulher inúmida
Oh ser tão
enxuto
com seu cabelo
seco
sua roupa enxuta
lábio ressecado
como se
estivesse
sob um toldo
azul:
essa terra mora
embaixo dum
telhado
(mesmo que
janeiro
feche o
guarda-chuva
traga um copo
d’água),
Essa terra cora
sob um todo
azul.
Já que o tempo é
feito
de um sol de
incêndio
é visível o
vento,
esse gato súbito
E a visagem à
frente
dá-se em
catarata
como se fervesse
o que de fato
ferve.
Pois
o que cantar
de avara lira
de musa tão
magra
de tão pó a
flora?
Perguntem ao Feitosa
que retira lírios
dos olhos das cobras.
/////
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
Aos que fazem teatro (W. J. Solha)
Leiam O Laboratório das Incertezas. Paulo Vieira (UFPB 2013) é dono de um
senhor currículo, que vai de pós-doutorado em Paris, junto ao grupo Théâtre du
Soleil (1996), ao doutorado na USP com tese sobre Plínio Marcos (A Flor e o Mal, Firmo, 1994); e do
mestrado com dissertação sobre Paulo Pontes (A Arte das Coisas Sabidas, UFPB 1998), à publicação de bons romances
– como O Ronco da Abelha (Beca) e O Peregrino (FCJA) –, mais um Bolsa
Funarte de Estímulo à Dramaturgia (2007), com o texto Anita, etc, etc, além do que é chefe do Departamento de Artes
Cênicas da UFPB, universidade para a qual criou o Mestrado Institucional em
Teatro e, com seus colegas, a Especialização em Representação Teatral.
terça-feira, 22 de outubro de 2013
Crônicas (Fernando Py)
Registram-se hoje dois volumes de
crônicas do cearense Nilto Maciel. Como me tornei imortal (Fortaleza:
Armazém da cultura, 2013) e Menos vivi do que fiei palavras: diários de
literatura (Aparecida, SP: Editora Penalux, 2012). No primeiro livro,
o autor, com cerca de quarenta anos de vida literária, fez uma seleção das
crônicas que publicou em jornais e revistas nas quais se refere a nomes
valiosos da literatura cearense em geral. São textos escritos com boa dose de
humor, a partir mesmo da crônica inicial – que dá título ao volume. Neles,
Maciel mais um a vez exibe seu conhecimento da literatura do Estado natal.
Tanto se refere a nomes cearenses já conhecidos, quanto se reporta a nomes ainda
à espera de consagração (como Luciano Bonfim e Clauder Arcanjo). De todos eles,
Maciel traça um perfil carregado de humor e ironia, mas sempre com generosidade
e interesse, juntamente de um rápido apanhado da obra deles. Com isso, faz uma
espécie de revisão quase crítica da cultura de uma região, com sua
multiplicidade de estilos e vozes. Pois, mais uma vez, verificamos que a
literatura cearense está entre as melhores do Brasil, haja vista que chama a
nossa atenção desde o nome de José de Alencar no século XIX. Evidentemente, o
autor não cuidou de fazer a história da literatura cearense, mas em suas
crônicas os escritores do Ceará aparecem com destaque, num conjunto tão bem
urdido e harmonioso que quase parece um romance sobre as letras atuais desse
Estado nordestino.
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