Entrevista publicada, em 30/4/2011, na revista cultural eletrônica Diversos Afins (www.diversos-afins.blogspot.com), dirigida por Fabrício Brandão e Leila Andrade
Para definir um bom prosador, são necessárias palavras que se proponham a extrapolar os limites meramente expositivos de qualquer cenário narrativo. Contentemo-nos, pois, numa análise que sabe ir além de um simples artifício de contar histórias. Numa acepção densamente significativa, um contista, mais do que apresentar situações e tramas, deve ser capaz de dissecar o âmago dos seres apresentados. A partir daí, ganha corpo vigoroso uma noção de interioridade que sabe ser ingrediente fundamental de uma proposta textual rica e consistente. E tal perspectiva encontra abrigo no modo de pensar e agir do escritor cearense Nilto Maciel. Detentor de uma trajetória que contempla incursões predominantes na seara da prosa, o autor, natural de Baturité, revela-se um alguém peculiarmente envolvido de modo especial no fazer literário, qual seja o de se apropriar de modo pungente dos elementos presentes em seu espaço íntimo de abstração para depois transformá-los em matéria viva vertida em palavras e outros tantos signos. Nesse processo, Nilto mergulha no universo de sua catarse pessoal, convivendo de frente com a necessidade primeira de isolar-se do mundo até que o produto de sua viagem ao centro de si mesmo seja expelido sob a forma de texto. Alguns de seus livros renderam-lhe premiações de destaque em concursos nacionais e regionais. Sua obra contempla, dentre outros, Itinerário (contos, 1974, Scortecci Editora), Tempos de Mula Preta (contos, 1981, Papel Virtual Editora), Punhalzinho Cravado de Ódio (contos, 1986, Secretaria da Cultura do Ceará), A Última Noite de Helena (romance, 2003, Editora Komedi) e Carnavalha (romance, 2007, Bestiário). Durante o diálogo do escritor com a Diversos Afins, foi possível compreender certas razões capazes de justificar as imagens que cercam o engenhoso ofício da escrita. Em Nilto Maciel, temos o exemplo vivo e atinente de que escrever, acima de tudo, envolve um criterioso ritual de entrega humana, tudo compreendido num lapso que sabe a desvãos da alma.