Noite alta num bar em fuzilo de chuva, recente e jovem amigo chegou a chorar de bêbado a dor pela perda da “noiva”, namorada eterna, maior amor de toda sua (curtíssima) vida, desde os 18 aos atuais 25 anos.
Assistindo ao choro, percebia-lhe a lágrima sincera a salgar os enegrecidos coraçõezinhos flechados pelo espeto insensível de churrasqueiro. Respeitando sua dor e dela não compartilhando — meus sofrimentos são bastantes para mim —, aboletou-me à cabeça, sei lá o porquê, a lembrança de um primeiro cheque devolvido. Na época, como ele, era muito jovem para entender a perecibilidade dos sentimentos indesejosos, e cria ser aquilo de injustiça tamanha, “logo eu”, homem correto, honesto, trabalhador, no começo da vida, por um descuido do sistema financeiro, ser vitimado pelo atesto em carimbos de incompetência. Não sabia ainda que pessoas assim são merecedoras (e carentes) mesmo de tais adversidades. Pois sim, o primeiro me voltou como beliscão no orgulho. Em seguida, mesmo mês, mais oito se numeraram àquele, até brilhar-me ante a manhã a notícia esparsa de que parecia ter acontecido uma outra vez... Ora, e daí? Devo não nego, pagarei quando puder e pronto! E paguei, sim, por nunca me gostar do dinheiro alheio. Nunca mais tal coisa me foi de sofrimento e, talvez, por isso nunca mais me aconteceu. Quando todas as dores do mundo parecem encontrar aconchego em nosso peito, tudo se torna mais fácil, calejada a alma, rimos até diante dos pequenos padecimentos.