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terça-feira, 31 de julho de 2012

Prenúncio de agosto (Clauder Arcanjo)

“Porque você há de ter notado que os olhos
aprendem imagens, mas ensinam palavras.”
(Paulo Mendes Campos)




Os olhos de julho não apreendem agosto
Agosto precisa de imagens e presságios
Imperioso, agosto palavreia ritos e mitos
Sugestivo, ordena recônditas assombrações
Medos, espectros, fantasmas de nós mesmos.


Os olhos de julho só aprenderão com agosto
Quando desgosto for palavra de gosto de julho.


Mossoró-RN, 30/07/2012

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A poesia de Aíla Sampaio (Dimas Macedo)



A vida nunca se faz plena como se um passe de mágica estivesse por trás das aparências. A eternidade não depende do tempo, mas do desejo com que buscamos possuir a plenitude das coisas. Existir não é o mesmo que viver, assim como escrever é possuir o indizível da língua, e traduzir também o seu mistério, em face da sua transcendência.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Dicionário do imperador Napoleão (Nilto Maciel)




Quando estive em Paris, pela primeira vez (faz muito tempo), conheci a jeune femme Isabelle Girault. Convidei-a para um café ou um vinho. Não sabia ainda como me comportar diante de uma francesa na França. Falei, entusiasmado, de Napoléon Bonaparte, passei à Revolução Francesa e terminei na guilhotina. Só pude perceber tédio nela depois de meia hora de lengalenga.

domingo, 29 de julho de 2012

A suíte de silêncios de Marília Arnaud (W. J. Solha)

Deixo-lhe a melodia tecida nas cordas da minha carne, nos acordes da minha memória, na cadência do meu coração, a melodia-existência, labiríntica como o espírito, misteriosa como o tempo, definitiva como a morte. Último parágrafo do romance
 


Aquela que até agora era conhecida como brilhante contista, não começa o seu primeiro romance (Editora Rocco, Rio, 2012) com ganas de deslumbrar o leitor. Nada parecido com as quatro notas iniciais da Quinta de Beethoven; com as marteladas de piano que abrem o concerto número um, pra piano e orquestra, de Tchaikosky; a clarineta virtuosística de Rhapsody in Blue, a imponência da Abertura de O Guarani. Porque a violinista Duína – a personagem-narradora de Marília Arnaud – não nos quer levar a nada de grandioso, imponente, grandiloquente, arrebatador. Seu clima é o da Ária na Quarta Corda Sol, de Bach; do Adagietto da Quinta de Mahler; a do tristíssimo, lento – e maravilhoso – solo das peças para piano de Éric Satie, como Trois Gymnopédies e Trois Gnossiennes.



sábado, 28 de julho de 2012

Repensar a morte (Tânia Du Bois)

(Para Carlos Pessoa Rosa)


Nossas imaginárias linhas, justificando a vida e a morte. (Pedro Du Bois)

Preciso exercitar o viver, porque tudo na vida são fases. Muitas vezes, fico pensando, cadê minha vida? Arrumo tempo para construir e produzir, é um tipo de exercício para projetar o viver a vida. Com o passar do tempo, volto a dar atenção e curtir as coisas de que gosto. Vivo em paz comigo mesma, com os amigos e familiares, o que já considero um grande projeto.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Noite e Tardinha (Silmar Bohrer)



Noite:
São três luzeiros brilhantes,
sorridentes a "revirias",
meninas do espaço errantes
as irmãzinhas marias.

Tardinha:
Serão texturas finíssimas
pelos caminhos do céu,
serão nuvens alvíssimas
sem mácula ou labéu ?

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Lições da tarde (Ronaldo Monte)



Tenho pena dos homens que perderam suas tardes. Tenho pena de mim, que sou pobre de tardes, tentando salvar algumas delas das salas fechadas em que trabalho. Quero-as de volta, uma a uma, para com elas aprender as eternas lições do tempo.

Aprendo com a tarde que o mais longo dos dias entregará sua luz à penumbra. Não adianta, nem vale a pena, querer retardar o passar do tempo. Inútil negar a lenta invasão das sombras com as luzes atemporais dos shoppings e escritórios. A tarde sempre cairá.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

A síndrome de Bartleby (Franklin Jorge)



Enrique Vila-Matas escreve em “Bartleby e Companhia” sobre autores que, por algum motivo qualquer – absurdo, plausível ou inexplicável –, pararam de escrever de repente, em alguns casos depois de um grande êxito literário. A isto ele chamou de a “Síndrome de Bartleby”, numa alusão à célebre personagem de Herman Melville, o escrivão Bartleby, que deixa de produzir, quedando-se em seu emprego numa atitude contemplativa e respondendo invariavelmente com uma frase misteriosa àqueles que lhe mandam executar uma tarefa – Preferiria não o fazer.

Rudimentos (Pedro Du Bois*)


(Toulouse-Lautrec)

O corpo tosco, ideológico, a bebida
barata do bar da esquina, o olhar
inerte sobre a toalha: a lembrança
é mortalha viva do intelecto e o longo
caminho percorrido no alongar o físico;
o contato contamina o todo destinado
e aos ouvidos se rebelam sons inaudíveis;
repete o gesto com que bebe o líquido,
repete as vezes despretensiosas da saudade;
reafirma ao homem da outra mesa a incerteza
da sobrevivência: ideológico, destila o humor
esbranquiçado da verdade: o homem ao lado
faz de conta que não é com ele e bebe
aos santos de todos os sábados.
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(*Pedro Du Bois, Rudimentos 1, inédito)
http://pedrodubois.blogspot.com.br

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quarta-feira, 25 de julho de 2012

A propósito de um dicionário analógico em língua portuguesa (João Carlos Taveira)



Num mundo devastado pela mediocridade, pela violência, pelo egoísmo e — last but not least — pelos ditames de um sistema cada vez mais consumista e utilitário, em que o homem perambula sem norte e sem esperança à mercê da própria sorte, o surgimento de novas opções no campo da lexicografia, paralelas a um punhado de outras boas publicações na área da ficção e da não-ficção, é como um bálsamo, um refrigério para a alma daqueles que heroicamente ainda resistem.

Improviso - 2008 (Teresinka Pereira)

(Para F. M. M., nos seus 75 anos)


 
Em junho,
Mando as cores do arco-íris
E das flores de meus desejos
Para que encontres
A fonte da alegria,
O badalar dos sinos do amor,
As montanhas douradas
Do prazer
E sons de guitarras
Arrulhando as canções
De feliz aniversário
Em todas as línguas
E em todas as palavras
Das tradições.
E mais: liberdade,
Alvoradas de luz,
Ocasos e lindos horizontes
Ao pôr do sol,
poesia e beleza, inteligência
e longa vida.

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terça-feira, 24 de julho de 2012

Aforismos (Hilton Valeriano)


46
Morte: insulto predatório ao encalço dos homens.


52
Para aqueles que foram felizes há um momento em que a morte se faz necessária.


53
O temor da vida: o irremediável.


59
Todos vivemos para a glória póstuma.


60
Nossas misérias tornam-se sempre pequenas quando delas retiramos o acréscimo de nosso egoísmo.


61
Poucos são capazes de admitir a pequenez que os caracteriza. Muitos são aqueles que acreditam na ilusão de sua grandeza.


63
Não há promessas nem alegrias gratuitamente consentidas.


71
A verdade nos aflige quando a mentira reivindica o direito de ser justa.


73
Seríamos trágicos se tivéssemos a consciência de todos os fatos.


90
As contradições da vida não justificam os equívocos de quem vive.

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Ó Allah (Mariel Reis)


(Jean-Auguste-Dominique Ingres: Odalisca e escrava)

I

Ó Allah, ela desperta do sono!
Estica-se para se livrar da armadilha
Invisível que lhe envolve os membros...
Sente o torpor no dorso branco
Qual o monte de açúcar
Com que adoço meu paladar.
Dirige o olhar frágil
Para a luz que fere delicada suas pálpebras
E não há palavras por vê-la renascendo
Para depois cair desfalecida de amor em meus braços.


segunda-feira, 23 de julho de 2012

Relendo Guilherme de Almeida com Sânzio de Azevedo (Nilto Maciel)



Em fevereiro de 2012, a casa editorial Sarau das Letras, de Mossoró, Rio Grande do Norte, editou Relendo Guilherme de Almeida, de Sânzio de Azevedo. Opúsculo de 100 páginas, traz nas abas uns dados biográficos do autor: cearense, professor de literatura na Universidade Federal do Ceará por mais de 30 anos, doutor em Letras, poeta e ensaísta, publicou compêndios de historiografia e biografia literárias. O volume está dividido em sete partes: introdução, fase inicial, decadentismo, modernismo, fase pós-modernista, a contribuição pessoal e conclusão, além de um anexo.

domingo, 22 de julho de 2012

Um Habsburg no meio do mato (Adelto Gonçalves*)


 (Ferdinand Maximilian Joseph Von Habsburgo, arquiduque da Áustria)
I


“Palavreado sobre a Liberdade e a Constituição gargarejam goela afora./ Construístes uma barraca para vosso aplaudido Senado./ Mas tudo é loucura e joguete das castas mais privilegiadas./ Pois onde se compram escravos, acrediteis, Liberdade é só caçoada”.


Estes versos, acredite o desavisado leitor, não são de nenhum ativista do século XIX, algum Bakunin (1814-1876) ou Ravachol (1859-1892) perdido nos trópicos, indignado com a instituição da escravidão ou a insensibilidade das classes privilegiadas. Mas de um infelicitado nobre alemão, Ferdinand Maximilian von Habsburg (1832-1867), o Maximiliano I, imperador do México, que acabou sua breve vida diante de um pelotão de fuzilamento por ordens de Benito Juárez, depois de três anos de reinado, período em que inutilmente tentou convencer os mexicanos de que uma cabeça coroada europeia valia mais que um presidente republicano.


sábado, 21 de julho de 2012

Posse (Inocêncio de Melo Filho)



Teus peitos
Fartos peitos
Encheram minha boca
Falaste que eram meus
Mas foste embora
E nem me deixaste
Os peitos que eram teus
Que por posse eram meus.

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sexta-feira, 20 de julho de 2012

Dobre de finados (Emanuel Medeiros Vieira)

(E uma vida restaurada)

(Medusa, de Caravaggio)

É-se príncipe por virtude ou por fortuna – sabia Maquiavel.
Seremos anjos por bênção ou danação.
Não há melancolia sem memória.
Não há memória sem melancolia.
Escutamos há tanto tempo o dobre de finados dos sonhos pretéritos.
Embriagados com a nossa própria crueldade, optamos por engenhocas eletrônicas– quinquilharias, maquinários.
Deslumbrados – resignados ou indiferentes à sorte alheia.
São variantes: acabamos sempre escrevendo o mesmo livro.
(...) “Noto que estou envelhecendo; um sintoma inequívoco é o fato de que não me interessam ou surpreendem as novidades, talvez porque observe que nada de essencialmente novo há nelas e que não passam de tímidas variações. Quando era jovem, atraíam-me os entardeceres, os arrabaldes e a desventura; agora, as manhãs do centro e a serenidade. Já não brinco de ser Hamlet.”
(Jorge Luis Borges, “O Congresso, em “O Livro de Areia”)
Seremos anjos por bênção ou danação.
E estou numa manhã recém-fundada – o mar, uma gaivota, o trapiche da Praia de Fora, um pai, o menino, a mãe, e um arco-íris.

(Brasília, abril de 2012)
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Quintal (Carlos Nóbrega)



Quando a noite é clara
sobre o rio manso
a flor da noite
se despetala
sobre a água em dança.
Dá para colher num balde
uns litros de lua.

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quinta-feira, 19 de julho de 2012

Apresentação mínima (João Carlos Taveira)



Que é poesia? Para alguns, encantamento, mistério, enlevo de alma. Para outros, jogo de palavras, linguagem, participação. E para uns poucos, como eu, é tudo isso e mais um pouco, desde que haja como complemento doses equilibradas de tolerância e solidariedade. Há, ainda, aqueles — talvez os menos tolerantes — que a defendem como expressão máxima da língua, dentro de uma sintaxe e de um princípio formal preestabelecido.

Fragmentos e desculpas (Henrique Marques-Samyn)



A certa altura de Libido aos pedaços, afirma Otávio, o protagonista: “Acho que já é público. Freud também tinha sua adorável cunhada − Minna Bernays − que, dedicada, o acompanhava discretamente em suas viagens de observações, estudos, pesquisas, lazer, férias, sei lá mais o quê. Tenho cá minhas suspeitas. E já andaram pesquisando, falando e publicando coisas assim. Resumindo, Minna Bernays ficou solteira a vida toda. Se Freud não explicou isso, Otávio Nunes Garcia reverbera que o eu de todo mundo tem seu duplo vagabundo”. Otávio insinua, suspeita, desconfia − não só nesse trecho, mas ao longo de todo o romance. Não é um sujeito muito confiável, se é que há alguém digno de confiança no romance de Carlos Trigueiro. Por outro lado, as frágeis justificativas e os patentes cinismos que permeiam as relações humanas figuradas em Libido aos pedaços fazem do romance uma acutilante peça de reflexão sobre a sociedade contemporânea.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Averno (William Lial)*




 (William-Adolphe Bouguereau, Dante e Virgílio no inferno, 1850)

Enquanto os cães ladram longe, o vento sussurra no pescoço. Quer mais? Posso quebrar seus olhos, afogar sua boca e dizer que te amo. Só o mal te ama agora por que só o mal você tem conhecido; você que vê sorrisos de chumbo e permite abraços líquidos, ouve vozes de rapina, e por todo lado cheira o pútrido que escorre dos muros e resvala no chão. Viu os olhos que te olham? São frios! Nada gela mais o mundo do que olhos que olham sem ver. Não percebe? Quase ninguém mais vê. Cegos, dia e noite, andam perdidos, julgam tudo ver, e nada veem. Olhando uns através dos outros veem a si mesmos, pois nada parece existir além do "eu" que tudo quer e nada dá, que de tudo reclama e nada erra. Só o mal te ama agora, com amor que só ele sabe dar ― frio e áspero. Não quer? E onde acha que pode encontrar um amor melhor do que este? Não, não se iluda, não há amor em parte alguma, este que lhe ofereço é o único amor que o hoje conhece. A humanidade não ama o amor que busca, ela imprime e impõe o que julga ser seu amor, e sufoca sua garganta que não respira mais sob a poeira dos sentimentos esfarelados. Quer que eu te mostre o mundo? Vem, vê como sonham os humanos, vê como e o que desejam acordados. Olha! Viu alguém pensando em você? (riso frio e cortante). É isso! Parece que todos sonham com espelhos, e sobre os ombros do espelhado não é você que se encontra, sou eu, aquele que sussurra o mal, que dá o que eles almejam, que rir o escárnio que tanto merecem. Sou eu, meu amigo, sou eu o verdadeiro gênio da lâmpada dando o que pedem em troca de suas almas. Não sinta por eles, nunca valorizaram suas almas; elas não valem nada, a não ser para mim. Ah sim, ser-me-ão úteis diante os portões velhos do meu mundo. Todos meus, todas minhas, as almas covardes, lúgubres, secas. Então, por que não desiste, não para de lutar contra o inevitável. Quer ser mártir? Os mártires morrem sedo. Viva mais, por mim (riso irônico). Tudo bem, viva mais por você, pelo seu bem estar no mundo em que ainda vive. Nosferatu? Não, não preciso sugar ninguém, dão-me tudo de graça! (riso debochado). Mefistófeles? Gostei! É um nome forte, poderoso, combina comigo (novo riso). Mas vamos ao que interessa. Vem comigo? Dar-me-á a honra de tua presença. Não é tão ruim como dizem depois dos meus portões. Há belas nuvens negras durante o dia, uma maravilhosa névoa fria e um odor de flores de enxofre que somente eu possuo e que embala todos os sonhos entorpecidos dos meus (riso de escárnio). Vai se negar o sucesso, o bem viver, por causa de uma escuridãozinha? Tudo bem, sou paciente. Posso esperar um pouco mais. Mas sei que vai ceder, todos cedem. Não há mundo novo, meu amigo, apenas o mundo de sempre, com novas máscaras em antigos monstros, todos piores do que eu. Salvação? Ingênuo! Não há salvação. Você está só. Todos estão sós até se unirem a mim. Eu sou a verdade, a imagem e semelhança na qual este mundo se espelha. Estou em todos os lugares, vistos e não vistos, nos sorrisos de escárnio, na ira que amaldiçoa, na inveja que domina. Mas vou esperar por você. E quando me quiser, não precisa me chamar, eu saberei. Afinal, nunca tiro os olhos de você!
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*Extraído do blog http://williamlial.blogspot.com
Para conhecer o escritor:
http://williamlial.blogspot.com
http://twitter.com/WilliamLial
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A poesia reunida de Hildeberto (W. J. Solha)

(Poeta Hildeberto Barbosa Filho)

Na próxima sexta, às 17 e 30, Hildeberto Barbosa estará lançando na Livraria do Luiz um volume de 430 páginas, editado pela Ideia – Nem Morrer é Remédio – com tudo que ele produziu entre 1986 e 2010. Nesse conjunto de obras – doze delas – pode-se ver nitidamente a evolução do poeta, com coincidente e crescente libertação de influências, permanecendo, no entanto, a angústia (frequente desespero) do autor, como nestes versos extremamente expressivos de O Último Concerto:

Todos os anos
passaram por mim
e o futuro não chegou.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Elegia dos sinos (Luiz Martins da Silva)



Os sinos, porque se dobram,
No bronze de nossas vidas,
Nas bênçãos de nossas sinas,
Nas ondas de nossas auras,


Pressupostos para análises de três filmes brasileiros (Guido Bilharinho)

Filmografias Complementares
(Cena de Os Fuzis)


Na diretriz de preocupação (e ocupação) com o relacionamento humano, especificamente, o amoroso, Válter Hugo Curi (São Paulo/SP, 1929-2003), prossegue em seu segundo filme, Estranho Encontro (1958), a vasta filmografia (para os padrões brasileiros), que irá desenvolver pelas décadas seguintes.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O buraco (Tânia Du Bois)


“Escrevo duro / escrevo escuro / Neste muro / o que procuro, o furo.” (Max Martins)

Através da palavra é possível redescobrir na expressão o nome como reconhecimento de que o buraco existe e significa, segundo o dicionário, abertura, intervalo, orifício artificial ou natural, orgânico, geológico, planetário, cósmico estelar, concreto e mesmo abstrato. Lêdo Ivo questiona, “Que pretende Deus / com tantas estrelas / e buracos negros / no espaço infinito?”

Uma louvação merecida (Jarbas Junior)

(Poeta Márcio Catunda)


São mais de trinta livros publicados, só de poesia. Isso impressiona, não pela quantidade, mas pelo valor literário neles indiscutível. Que se constata facilmente pelos prefácios e apresentações de grandes nomes da nossa literatura; de Ledo Ivo a Anderson Braga Horta, de José Alcides Pinto a Francisco Carvalho, de Nilto Maciel a João Carlos Taveira, (tão conhecedor dessas vozes interiores que determinam as legítimas vocações poéticas).

domingo, 15 de julho de 2012

Rosinha (Silmar Bohrer)


reina

absoluta
a rosinha cor-de-rosa
impoluta
imensa
pretensa
bela e formosa

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sábado, 14 de julho de 2012

Eu, o quase assassino (Ronaldo Monte)



Ela tem algo de perverso que a leva sempre a repetir os mesmos erros. Ela não respeita os meus espaços, os meus objetos, os meus estados de humor. Ela está sempre onde não deve, fazendo tudo errado, criando problemas com os vizinhos, exasperando os habitantes da casa. Ela é, literalmente, uma cachorra. Tem seis meses de idade e atende pelo nome de Choquita. Já estava aqui em casa, quando vim morar em Cabedelo. Pertence à minha neta e eu não tenho nada a ver com isso.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

I Feira Brasileira do Cordel (Fortaleza-CE)


Poder (Pedro Du Bois)



Ávido de poder reclamo a sorte
que me cabe no negócio: o amor
tolhe os movimentos. O corpo
cede à angústia de estar vivo. A sorte
é instante acordado. O poder trafega
a ilusão da luz apagada. A lanterna
cessa a sombra imaginada. O destino
presente na ponta dos dedos. Águas
sôfregas rasgam a terra e depositam
mensagens de descobrimento.
Aviso em praça pública: o poder
combina a estática com o movimento
em falso do adormecido.

http://pedrodubois.blogspot.com.br/

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quinta-feira, 12 de julho de 2012

Da leitura de Netto, Bicuco e Eltânia (Nilto Maciel)


Para não me alongar nos escritos que rabisco, decidi me reportar, em cada um, a três ou quatro publicações, no máximo. Assim, para a notícia anterior a esta, intitulada “Da leitura de Oliani, Alaor e Tardivo”, escolhi duas de prosa jornalística ou ensaística e uma de poemas. Para esta, separei três volumes de prosa de ficção: Os acangapebas, de Raymundo Netto; Histórias de Perequê e Açu, de Carlúcio Bicudo; e Manhãs adiadas, de Eltânia André. São novos: dois de 2012 e um do ano passado. O primeiro foi doado pelo próprio Netto, em visita que me fez. Sei pouco de Bicudo. Mora em Resende, Rio de Janeiro. Mandou, há poucos dias, mensagem de apresentação. Comentou algum artigo meu. E logo me prometeu um presente. De Eltânia sei três informações: vive em São Paulo, é casada com Ronaldo Cagiano e este é seu segundo conjunto de narrativas.

A seguir, informações das três obras.

 

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Truman Capote e a criação (Franklin Jorge)

(Truman Capote)

O artista progride lentamente. Tudo parece conspirar contra seus planos, mesmo quando ele trabalha sem planos, o que ocorre às vezes com alguns artistas que se deixam levar somente pela intuição. Porém, trabalhando segundo um plano ou sem ele, um desafio impõe-se a todo criador: o de vencer a auto-satisfação que tem prejudicado e até destruído muitos talentos.

Minha mãe (Clodomir Monteiro)



A mulher da foto que vejo ao lado
sempre esteve ao meu lado
no lado do lado do coração

terça-feira, 10 de julho de 2012

Floradas na Serra (Guido Bilharinho)

Sutileza e Equilíbrio


 
O fracasso do grande projeto da Companhia Cinematográfica Vera Cruz derivou de vários fatores, conforme expostos e exaustivamente debatidos desde então. Nunca é por demais repetir que um deles, talvez o mais importante –  e que persiste agravado até hoje (e até quando?) é a circunstância da distribuição dos filmes produzidos pela Companhia estar afeta a empresas estadunidenses. Conquanto elas também tirem proveito do êxito comercial dos filmes que distribuem, seu maior, fundamental e permanente interesse é com sua própria produção nacional, pelo que limitam a propagação de filmes brasileiros, atrasando, inclusive, os repasses à Vera Cruz, conforme consta.

Legado (Inocêncio de Melo Filho)

(Centro de Sobral, Ceará,  "a Princesa do Norte")


Princesa do norte não és mais nobre
És apenas uma princesa
Que guarda nas tuas foças nasais
Os bons cheiros da infância
Cheiros que não voltam mais
Quando voltam se aquietam em tuas memórias
Não alcançam as tuas ruas fétidas
Oh! Princesa do norte.
O lixo engorda os paralepípedos
E o odor se estica pela urbe
Ondeia no ar
Desafiando o vento que não consegue
Lhe dar outro destino.

(17/06/12)

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segunda-feira, 9 de julho de 2012

Da leitura de Oliani, Alaor e Tardivo (Nilto Maciel)


 
No artigo “Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come” fiz a seguinte promissão: “para não me aborrecer mais e não criar outros inimigos, a partir de hoje, não tecerei nenhuma consideração (no sentido de apontar falhas ou defeitos), em artigo, resenha ou crônica, a impresso que me for enviado ou oferecido”.

domingo, 8 de julho de 2012

Canção urbana: suas origens (Adelto Gonçalves*)


I

Até aqui, a origem mais aceita para o fenômeno das modinhas, que se alastrou pelo Brasil e Portugal a partir do século XVIII, era a erudita. Acreditava-se que seria uma degeneração da ópera italiana que dominou os palcos dos teatros de Lisboa por aqueles anos. Mas essa não passou de uma conclusão precipitada a que haviam chegado historiadores que se valeram apenas da análise da música impressa daquela época.

sábado, 7 de julho de 2012

Por que escrevemos? (Emanuel Medeiros Vieira *)




Começamos escrevendo para viver e acabamos escrevendo para não morrer. Para quem edifica palavras mal rompe a aurora, escrever é inadiável e urgente, mesmo que nada externamente nos obrigue a isso. Mas a necessidade interna é visceral, orgânica, chama e fogo, flecha, algo colado à pele. Não conseguimos escapar desse apelo. Escrevemos para perdurar, para vencer a poeira do tempo, para despistar a morte, para regar nossos fantasmas e (por que não?), para amar e se amado. A literatura é o refúgio da sinceridade num mundo de pose. “A literatura é um apelo de fogo, onde mora meu desespero, a minha inquietação e o meu paraíso”, escreveu alguém. Eu sei: tento escrever um hino de amor à palavra. Qual a maior viagem (interior) que podemos fazer, senão aquela que é um mergulho no livro, nesta criação de outros mundos, nessa peregrinação às áfricas interiores? “Se o mundo dos objetos palpáveis e vida prática, não é mais real que o mundo das ficções, dos sonhos e dos labirintos, então pode ser que o autor de artifícios verbais tenha mais direito à condição de demiurgo que qualquer outro candidato”, escreveu Samuel Titan Jr., falando sobre Borges..

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Marly Vasconcelos (Jarbas Junior)

Crônica nº 1 dos membros da ACL
(Escritora Marly Vasconcelos)


Sempre considerei adequado à poesia, esse nome de suave leveza azul. Li um poema dela, tinha adolescência na alma ainda, foi num livro de português da antiga oitava série ginasial. Apreciava muito tais compêndios didáticos, verdadeiras antologias de iniciação literária. Os da Magda Soares eram os meus preferidos. O texto de Marly figurava em versos livres admiráveis, de ritmo largo e vibrante como as vagas da Praia do Futuro. As metáforas fluíam espontâneas como em “profundamente” de Manuel Bandeira.

Alquimia matinal (Luiz Martins da Silva)



Toda manhã, bem cedinho,
Feito oração saborosa,
Uma história de carinho
Vem aquecer a memória.

Descobriu um pastorzinho,
Lá nos rincões da Etiópia,
Cabritas pulando eufóricas
Depois de pastar a frutinha.

Mal sabia o abissínio
Que o efeito do café
Hoje, depois de milênios,
Ainda bota a gente em pé.

Por isso faço esta ode
E de todo o coração
Dedico ao pastor de bodes
Estes versos de fogão

Saídos, passados na hora,
Feito licor aromático
Dádiva vegetal generosa
De tantos poderes mágicos.

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quinta-feira, 5 de julho de 2012

No bosque profundo do homem (William Lial*)



O livro de nome atraente, De repente, nas profundezas do bosque, trata-se de uma espécie de fábula moderna, com temas alegóricos atuais, como a discriminação, a convivência com o outro, a integração do homem com a natureza ― como partes de um só corpo ―, a necessidade de ver a realidade acima do que se toca, ver, ou escutar, e a independência de espírito contra o obscurantismo, melhor representado com a menina contestadora, Maia, que com o seu amigo Mati, nada corajoso, ao contrário da amiga, entra no bosque em busca de respostas para o sumiço de todos os animais, insetos e peixes de sua aldeia.

Alguns metros de sangue e pó* (Marco Aqueiva)




Nessas ocasiões o asfalto às vezes reclama
um asfalto tocado por um sangue rasteiro
pesa até o erro na moça de olhos vermelhos
deslizando pela avenida o corpo estendido

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Casinha (Carlos Nóbrega)




Casinha espremida entre os grandes prédios,
lhe falta até a obrigação de ter um número.
Tão inocente!
Tão inocente a avozinha da rua ...
E ao meu olhar
os edifícios, em colossal solidão,
suplicam a ela a todo instante
uma esmolinha de humanidade.

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Nota despretensiosa sobre um livro admirável (João Carlos Taveira*)


O livro mais delicioso e sério que li ultimamente, com atraso de quinze anos, intitula-se Paris... nos tempos de Debussy e é de autoria do pianista e acadêmico Oriano de Almeida, já falecido. Publicado em 1997, com apoio do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e do Banco Real, o livro é uma biografia do autor de Prélude à l’après-midi d’un faune, La mer e Pelleas et Melisande, mas também um retrato vivo da Cidade Luz, pintado na segunda metade do século XIX. Mas, nesse curto espaço de tempo, somos levados a empreender uma viagem vertiginosa pela vida parisiense, com suas ousadas, borbulhantes e surpreendentes cenas de humanidade explícita. Poucas cidades do mundo disseminaram conhecimento científico, literário, musical e pictórico como a capital da França naquele período.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Comentários ao artigo “Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come” (Nilto Maciel)


Segundo o contador automático de leituras (?), meu artigo “Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come”, publicado no dia 2 de julho, foi visto (“visualizações”) ou lido por 162 curiosos (até 10 horas do dia 3). Onze deles postaram comentários: Abel Sidney, Aurivan Aragão, Emerson Monteiro, Fernanda, Geovane Monteiro, João Carlos Taveira, Nara Rios, Pedro Du Bois, Rosângela Rocha Vieira, Salomão Sousa e W. J. Solha. Agradeci a cada um e aqui agradeço de público a todos. Além disso, tenho recebido muitas mensagens. Transcrevo (com autorização) algumas delas:


Pródigo (Pedro Du Bois)


Destraçar o caminho
replantado na grama
sob os passos
desconsiderar o avanço
e retornar em plácido
andar de retomada
esquecer o desenho
mapeado em escuros
tesouros inatingíveis
ser diletante: pai e mãe
a recolocar no alpendre
espantalhos ao espantado
o filho.

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segunda-feira, 2 de julho de 2012

Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come (Nilto Maciel)


Segundo os antigos, se conselho fosse bom, ninguém dava. Todo dia, no entanto, recebo uma dezena desses manjares. Um dos mais frequentes é este: “Nilto, pare com essa besteira de criticar escritor medíocre. Não perca seu tempo com isso. Vá revisar os seus contos e romances, antes que seja tarde demais”. Tenho plena consciência de que estou velho. É para não entregar a bolsa à insaciável e eterna ladra que persisto em escrever e estudar. O ofício de editor (o jornal Intercâmbio, anos 70; as revistas O saco, 1976/77, e Literatura, 1992/2008; e o blog Literatura sem fronteiras, desde setembro de 2005) não me deixa, porém, abandonar a pena. Pois toda tarde recolho (o carteiro lança pacotes sobre o muro) livros, com rogos de leitura e comentário: “Nem que seja uma linha”. Os mais afoitos me suplicam prefácios ou pequenos textos para orelha. Chegam, por e-mail, diariamente, poemas, contos, crônicas, artigos, ensaios. Ora, para publicar ou deletar, preciso lê-los. Não posso, portanto, deixar de passar a vista por obras medianas e de baixa qualidade.

domingo, 1 de julho de 2012

Solenidade (Ronaldo Monte)

(Maria Valéria Rezende)

Era realmente uma sessão solene. A escritora e humanista Maria Valéria Rezende recebia o título de cidadã na Câmara Municipal de João Pessoa, proposto pela Vereadora Sandra Marrocos. O ambiente fervia de emoção com a sucessão de manifestações de carinho e respeito pela amiga fraterna. De repente, o clima foi rompido por uma gargalhada vinda das galerias. A pessoa que falava tentou recuperar o tom emotivo, mas uma nova gargalhada se chocou contra a redoma de afeto que nos envolvia.